terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Crônica - Ano V - Nº 176 - "A onda"

Certa vez, vi no meu querido Centro Cultural Pinheiros um filme que deu boa discussão nos Cines-Debate de Sábados à noite. O título: "A onda". Não vou contar a sinopse aqui, para até estimular os leitores a assistir, pois é um filme muito bom. Mas falava sobre o poder de influência que uma certa ideia ou posicionamento podem ter num grupo de pessoas, a ponto de deixá-las apaixonadas e doentias por essa ideia...

E recentemente, no mural de meu Face, vi críticas a respeito das chamadas "modinhas", que são sinônimos de onda, porque não. Modas dos reality shows, das lutas (UFC, principalmente), das novelas, das tendências de se vestir, falar... times da moda, penteados da moda, moda, moda, moda. 

E surge a questão: seguir ou não a onda? Será que a onda é tão ruim assim, é só passageira, nada acrescenta?

Poderíamos dizer aqui: depende de como você a "surfa". Você a domina, ou é dominado por ela?

Moda vem do latim "modus": costume, estilos de consumo. Cada época, cada ano, século... teve sua moda. Um treinador gostava de afirmar que o futebol é cíclico: pois bem, a moda também é cíclica, pois o que está hoje na crista da onda amanhã pode não estar mais. Lembram-se da lambada? E as camisas xadrez, de cores berrantes, óculos gigantes, iê-iê-iê... As gírias, os ídolos. Quanta coisa já foi moda, sumiu, voltou, vai sumir de novo... É a onda.

Agora, cabe ver como vamos surfar essa onda: tudo isso citado acima é legal, divertiu muita gente, e essa gente não pirou na batatinha com essas ondas: não as deixou virarem fins, ao invés de meios. É o chamado "fanatismo": deixar que esses gostos e ondas subam à cabeça, a ponto de monopolizarem os assuntos, o jeito de ser e as ações. Lembro-me da história do cara que morreu, e quis levar com ele no enterro o carro que ele tanto gostava, com seus pertences. Ou ainda aquele sujeito que gostava tanto do cantor que na base da navalha escreveu o nome do cantor na pele. "Causos" não faltam sobre ondas exageradas, que foram além da diversão, e viraram caso de polícia, e até de morte... justamente por extrapolar essa temperança.

A palavra-chave para pegarmos bem as ondas que aparecem é a virtude citada acima. Temperança, que significa saber usufruir do que se gosta, do que dá prazer, sem exageros. É sinônimo de sobriedade, de parcimônia, de auto-controle. Assim, nunca é ruim seguir uma onda, quando se está de bem com a temperança. Curte lutas? Assista à luta, mas saiba separar as coisas, qual a finalidade, o que é aquilo, quem participa daquilo, sem maluquices e fanatismos. Gosta de um bom vinho, aquele mousse? É apreciar sem exageros, sem passar da conta. E assim para cada coisa que nos apetece: vovó já dizia que o que é exagerado, faz mal.

Portanto, antes de criticarmos as ondas e "modinhas" alheias, que tal refletirmos antes sobre as nossas "modinhas"? Os nossos gostos, as ondas que gostamos de surfar. De repente, aquele que você acusa de ser seguidor de onda sabe dominá-la como poucos, enquanto você aí, crítico das modinhas, pode estar dominado pela modinha do criticismo gratuito, sendo tragado pela onda. Não, não precisa seguir a onda, e em grande parte dos casos nem se deve segui-la, e estamos em outras ondas, maia altas e melhores; porém, é fundamental saber que, queiramos ou não, essa onda vai passar por nós, vai cruzar nosso caminho. Resta saber se de modo proveitoso e de discussão construtiva, ou ela vai nos encontrar ranzinzas e avessos a tirar dela o que pode ter de bom (o mal 100% nem o "tinhoso" conseguiu inventar), algo que é muito particular de cada ser humano, pela sua formação e caráter.

Pois bem, lá vem as ondas, lá vão as ondas de Janeiro (vide a televisão, rádios, net)... e o que elas deixaram ou deixarão em nossa praia? Tesouros, ou esgoto? Cabe a nós, com a formação, informação, valores e fé, descobrirmos.
   
São Paulo, 16/01/2012. W.E.M.

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