sábado, 29 de outubro de 2011

Crônica - Ano IV - Nº 170 - "O agora"

Normalmente, gosto muito de escrever sobre a questão da posteridade, principalmente no mês de Novembro, mês onde particularmente faço uma intensa reflexão sobre a Eternidade, o que vem depois.


No entanto, desta vez, me detenho na questão não do depois, mas sim de seu primo antônimo: o agora. Que não deixa de ser menos importante que o depois, e que se pararmos pra pensar é fundamental para que esse depois ganhe corpo e valha a pena.


O nosso exato instante é de suma importância para escrevermos o nosso livro da vida. É possível dizer que a vida depende da existência desses instantes e momentos de oportunidade, de "vai ou racha". Sabe essa faculdade que você está agora? Sabe essa pessoa com quem você namora há dias ou anos? Essa profissão, esse barzinho onde você está, bairro onde mora? Sim, tudo isso e muito mais passou exatamente por esse agir e dançar com o agora, com o que temos pra já. Ou, na pior das hipóteses, a oportunidade apareceu agora, para uma posterior (e não demorada) decisão. O agora tem pressa, tem mais o que fazer.


Não podemos confundir agora com ativismo: esses nem parentes são. O agora pode estar muito bem aí nessa cervejinha à beira-mar, nessa festa, nesse momento de sofá! Corre-corre, pressa, estresse ou workaholic, antes de dar uma eficácia do agora, só colaboram para uma gastrite e crises nervosas, isso sim. O agora, na verdade, possui não só altura e largura, mas sim profundidade, é tridimensional... é transcendente.


O segredo do agora está em olhá-lo de maneira transcendente: não estou aqui neste lugar, nesta circunstância por acaso. Ortega y Gasset possui uma frase genial, que anotei no caderninho: "eu sou eu e minhas circunstâncias". Mas essa sentença genial pode receber uma pincelada a mais: a pincelada do agora, da vivência e mergulho profundo neste agora, que foi crucial para que essas circunstâncias ganhassem corpo. Da vivência plena naquilo em que eu estou nesse exato momento dependem obras e empreendimentos gigantescos, talvez até mesmo uma virada de vida, um capítulo novo em nosso "Livro". Desconfiemos de quem aposta em "acasos", em lances da sorte ou azar: talvez são esses mesmos que se escondem na máscara do amanhã, e esquecem do agora, do que tinham para já. E quando acordarem... pode ser tarde demais (espero que não).


Mais ainda: o sentido transcendente do agora permite que saibamos que onde estamos nesse momento podemos agradar a Deus. Sem pieguices: é na Missa e nos tempos de orações sim, mas é também no bate-bola, no chope com os amigos, no sorvete e no shopping, nessa partida de video-game ou viagem, em tudo isso que não fere minha fé! Ter a Deus como pano de fundo desse agora é ficar sossegado e protegido: estou onde o Pai queria exatamente que eu estivesse, e direi "sim" ou "não" de acordo com o que eles irão colaborar para esse sossego do agora. Hoje a religiosidade é muito atacada pelos que querem provas palpáveis, fatos reais, retidão... e isso talvez aconteça pelo fato de que vários dos que possuem esse re-ligare acharem que é só "da igreja para dentro" que existe baila com Deus. Erro crasso: a baila com Deus está também em todos esses "agoras", nessa vida privada, aberta, real! Negar a isso é dar margem aos que criticam a religião... E, sinceramente, nessa vou estar com eles.


Portanto, neste próximo 2 de Novembro estaremos nos cemitérios indo visitar a muitos que fizeram e aconteceram em seus "agoras". Eles não esperaram, não deixaram a chance passar. Agiram, fizeram o que tinham de fazer agora, e construíram um depois maravilhoso para as gerações posteriores. Ou então o contrário (espero, mais uma vez, que não).


E aí, o que tens para viver agora? Vai adiar mais ainda essas coisas grandes que dependem de sua ação? Bora sair da zona de conforto: tem gerações dependendo de nós nesse agora... inclusive Deus e nós mesmos, quando chegar o "nosso" 02/11.


São Paulo, 29/10/2011. W.E.M.

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