Gostaria, nestas palavras, de me deter num verbo que combina com a profissão docente: desaparecer. Peraí... como assim, desaparecer?!? O docente não é o timoneiro, aquele que tem responsabilidade pelo aprender de milhares e milhares de alunos, em sua carreira? Explica!
Um professor marcante, de acordo com minha (curta) vivência escolar, procura fazer com que seus alunos estejam à frente, e não ele mesmo. Ao entrar em sala, ele tem a missão de desaparecer diante do aluno, incentivar que eles mesmos tenham protagonismo na aula e verifiquem a importância dela. É muito comum que se tomem por exemplos de bom professor aquele meio "maluco", que se for preciso se joga no chão para incentivar o aluno a aprender. Entretanto, a boa aula é uma via de mão dupla: o cara pode ser o sujeito mais pirado que for, mas se não se preocupa com o aluno como principal protagonista da aula daquele dia, vai fracassar. O aluno é que tem de dar a resposta se a aula daquele dia valeu a pena. A aula não é para mim: é para eles.
A resposta desses alunos não virá, na grande maioria das vezes, de bate-pronto. Demorará dias, semanas, meses, anos para sabermos, sendo que esse último (os anos) é a melhor escala de tempo para a espera dessa resposta. Também essa resposta não chegará aos olhos e ouvidos dos professores: anualmente, alunos nossos caem no mundo e vão simbora para descobrirem o que tem nele, depois de anos ouvindo nossas vozes e explicações. Vários encontramos pelas ruas depois de anos, outros literalmente somem, não dão mais notícias.
Mas, em ambos os casos acima, como é bom encontrar alunos com famílias estruturadas, formados, com valores assimilados, simplesmente felizes! E muitos deles, talvez, pouco ou nada mencionarão nossos nomes por extenso, ou lembrarão de nossa matéria. Puxa, então será que só os que lembram de nós é que assimilaram algo, e só eles é que fizeram nosso esforço valer a pena? Nada disso.
O sustentáculo do edifício, aquela estrutura que não o fará desabar é justamente a pilastra, as vigas de sustentação. Que pouco ou nada aparecem, e não são o objeto de atenção do morador do edifício. Assim devemos observar a nossa profissão: a boa estrutura de nossos alunos por muitas vezes estarão bem sustentadas graças ao trabalho daquele exímio professor cujo nome ou matéria o tempo fez desaparecer, na maioria dos casos. O bom professor pode sim ser esquecível: no entanto, se ele trabalhou firme, procurou fazer o melhor por seus alunos, e esses alunos conseguiram vencer, silenciosamente esse professor também venceu. Como docentes, não precisamos de aplausos barulhentos: basta o aplauso da vitória na vida por parte de um aluno, para podermos dizer, com alegria: missão cumprida.
Um professor que tenha em mente a importância desse trabalho oculto sabe se renovar para fazer um trabalho melhor: ao invés de ficar nos louros do passado da boa aula de ontem, já quebra a cabeça na aula que vem daqui a pouco. Se os alunos gostaram hoje, como fazer para que eles estejam firmes amanhã? Pergunta que o bom professor irá procurar responder, de maneira silenciosa, e com esse mesmo silêncio manter sua paixão pela profissão. Se vierem elogios, que bom: aceita-se, mas aumenta-se a responsabilidade para não deixar a peteca cair, o trabalho dobra... em nome da vitória dos nossos alunos, os que tem de aparecer antes de nós mesmos.
Aplausos a todos esses professores que, silenciosamente, formam ano após ano cidadãos de bem, homens com H que ficam e perduram para sempre, em seus clãs: são esses cidadãos que deixaram rastro a garantia e o grande motivo de aplauso para com os docentes, neste 15 de Outubro.
São Paulo, 12/10/2011. W.E.M.
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