quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Crônica - Ano IV - Nº 169 - "Professor = desaparecer"

Já se aproxima mais um 15 de Outubro. Meu segundo 15 de Outubro fazendo parte da turma dos professores, com muito orgulho. Vai ter confraternização na escola, mensagens bonitas para os colegas docentes, talvez alguma lembrança dos alunos, enfim... mais um Dia dos Professores.

Gostaria, nestas palavras, de me deter num verbo que combina com a profissão docente: desaparecer. Peraí... como assim, desaparecer?!? O docente não é o timoneiro, aquele que tem responsabilidade pelo aprender de milhares e milhares de alunos, em sua carreira? Explica!

Um professor marcante, de acordo com minha (curta) vivência escolar, procura fazer com que seus alunos estejam à frente, e não ele mesmo. Ao entrar em sala, ele tem a missão de desaparecer diante do aluno, incentivar que eles mesmos tenham protagonismo na aula e verifiquem a importância dela. É muito comum que se tomem por exemplos de bom professor aquele meio "maluco", que se for preciso se joga no chão para incentivar o aluno a aprender. Entretanto, a boa aula é uma via de mão dupla: o cara pode ser o sujeito mais pirado que for, mas se não se preocupa com o aluno como  principal protagonista da aula daquele dia, vai fracassar. O aluno é que tem de dar a resposta se a aula daquele dia valeu a pena. A aula não é para mim: é para eles.

A resposta desses alunos não virá, na grande maioria das vezes, de bate-pronto. Demorará dias, semanas, meses, anos para sabermos, sendo que esse último (os anos) é a melhor escala de tempo para a espera dessa resposta. Também essa resposta não chegará aos olhos e ouvidos dos professores: anualmente, alunos nossos caem no mundo e vão simbora para descobrirem o que tem nele, depois de anos ouvindo nossas vozes e explicações. Vários encontramos pelas ruas depois de anos, outros  literalmente somem, não dão mais notícias.

Mas, em ambos os casos acima, como é bom encontrar alunos com famílias estruturadas, formados, com valores assimilados, simplesmente felizes! E muitos deles, talvez, pouco ou nada mencionarão nossos nomes por extenso, ou lembrarão de nossa matéria. Puxa, então será que só os que lembram de nós é que assimilaram algo, e só eles é que fizeram nosso esforço valer a pena? Nada disso.

O sustentáculo do edifício, aquela estrutura que não o fará desabar é justamente a pilastra, as vigas de sustentação. Que pouco ou nada aparecem, e não são o objeto de atenção do morador do edifício. Assim devemos observar a nossa profissão: a boa estrutura de nossos alunos por muitas vezes estarão bem sustentadas graças ao trabalho daquele exímio professor cujo nome ou matéria o tempo fez desaparecer, na maioria dos casos. O bom professor pode sim ser esquecível: no entanto, se ele trabalhou firme, procurou fazer o melhor por seus alunos, e esses alunos conseguiram vencer, silenciosamente esse professor também venceu. Como docentes, não precisamos de aplausos barulhentos: basta o aplauso da vitória na vida por parte de um aluno, para podermos dizer, com alegria: missão cumprida.

Um professor que tenha em mente a importância desse trabalho oculto sabe se renovar para fazer um trabalho melhor: ao invés de ficar nos louros do passado da boa aula de ontem, já quebra a cabeça na aula que vem daqui a pouco. Se os alunos gostaram hoje, como fazer para que eles estejam firmes amanhã? Pergunta que o bom professor irá procurar responder, de maneira silenciosa, e com esse mesmo silêncio manter sua paixão pela profissão. Se vierem elogios, que bom: aceita-se, mas aumenta-se a responsabilidade para não deixar a peteca cair, o trabalho dobra... em nome da vitória dos nossos alunos, os que tem de aparecer antes de nós mesmos.

Aplausos a todos esses professores que, silenciosamente, formam ano após ano cidadãos de bem, homens com H que ficam e perduram para sempre, em seus clãs: são esses cidadãos que deixaram rastro a garantia e o grande motivo de aplauso para com os docentes, neste 15 de Outubro.

São Paulo, 12/10/2011. W.E.M.

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