Passado o Dia dos Namorados (eu, pra variar, de boa, como há 27 anos, hehe), fiquei pensando em um tema que pudesse se relacionar com a data e com os últimos dias (afinal, a crônica precisa estar entrelaçada com o cotidiano).
E encontrei inspiração nas leituras dos últimos dias, que trazia a história real de uma moça em leito de morte, que recebia a visita de um padre para lhe dar a extrema-unção. O padre, então, lhe pergunta: "aqui estão lhe tratando bem?". E ela, sem pestanejar, replica: "padre, aqui me tratam com caridade, mas não com carinho. Esse, eu recebia em minha casa. E aqui, não".
Pode soar estranho para quem está lendo. Caridade não é a mesma coisa que carinho? A palavra "caridade" não é soberana, sempre se remetendo a coisas boas? Nada disso.
Existem formas diferentes de falarmos da caridade. E é aí onde entra o tempero que dá gosto a ela: o carinho. A moça da historinha acima não reclamava de atitudes boas de quem lhe atendia: elas existiam, todas a atendiam, faziam o que ela precisava, mas sem o detalhe essencial: sem carinho, por mera formalidade, pra "cumprir tabela". E o que ultimamente se observa com frequência na sociedade é essa caridade "oficial", pra ficar dentro do "politicamente correto". Sim, se ajudam os necessitados, auxiliam-se os amigos no serviço, atendem-se as pessoa com cordialidade e se emprestam objetos. Mas muitas vezes, é nítido perceber que se faz isso no "piloto automático", sem pôr o coração, por puro e seco dever (é o que a gente pode perceber na diferença entre o coleguismo e a verdadeira amizade).
A caridade original de fábrica vêm acompanhada do carinho como "item de série". Com o carinho, atender ou cumprimentar uma pessoa, dar uma aula, dirigir ou cuidar de uma pessoa doente ganham outro sentido. Sai o formalismo, e entra o coração, a vontade de fato de se fazer aquilo, de se estar com aquela pessoa. Não se cumpre tabela, se joga pra valer, com raça, amando mesmo o próximo. Como faz falta essa caridade original de fábrica nas relações sociais do dia de hoje! Bastam observar no dia-a-dia de vocês: não é diferente ser cumprimentado por uma pessoa que realmente está ali, interessada por você, no que você faz, vibrando com a sua simples presença, do que ser cumprimentado por aquela que o faz por simples boa norma de educação e convivência, e que se pudesse poderia estar fazendo outra coisa que não seja estar com você? Não olharíamos, pela caridade-carinho, nosso próximo ou mesmo aquelas pessoas que talvez desgostamos com uma outra dimensão, de maneira mais humana, antes de tudo?
Vamos dizer um não à caridade-oficial? O que acha de darmos esse toque a mais na relação com o próximo? Não ter receio algum de soltar palavras otimistas, de se interessar pelas pessoas, de fazer o bem e cumprirmos o dever de cada dia com o coração, não por mera "boa-educação". A mudança de consciência do mundo está ao nosso alcance: aplicando essa caridade com 18 quilates de carinho com as pessoas que nos cercam (as desconhecidas ou menos queridas, as mais queridas e as de maior convivência). Se hoje se vive uma era de crises de relacionamento, conjugais, políticas entre várias outras, muito se deve a esse seco formalismo que impede de se olhar o ser humano coma dignidade e amor que ele mereceria ser olhado. Cada pessoa desse mundão de Deus merece um respeito inestimável, e muitas vezes tacamos pedras nelas ou nos desinteressamos das mesmas sem saber das circunstâncias difíceis pelas quais estão passando. Elas neste instante podem estar precisando, tal qual a mocinha da história, de carinho, e não de caridade-comum.
Portanto, mais caridade-carinho e menos caridade-dever. Essa receita, com certeza, apimentará nossas relações sociais e com o mundo. E, namorados e namoradas: também vai apimentar a relação de vocês, se ela está na fria caridade-oficial, nos últimos tempos. Caridade-Carinho já!
São Paulo, 14/06/2011. W.E.M.
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