terça-feira, 31 de maio de 2011

Crônica - Ano IV - Nº 161 - "Com alma e com calma"

Mais um tabu quebrado: tive a oportunidade de passar alguns dias no Rio de Janeiro (devido a um congresso): conhecer a Cidade Maravilhosa, seus encantos e mistérios! Obviamente, não os esgotei: longe disso! Acho que precisarei de umas quatro viagens ao Rio para decifrá-lo por completo, hehehe!

O que posso dizer que me surpreendeu na alma carioca é a paciência, a calma daquele povo. De fato, o Rio possui muitíssimos problemas sociais, dificuldades e tudo o mais que cansamos de ver nos jornais. Entretanto, ao invés de se lamentar e ficar preocupado ou cabisbaixo com a situação, que nada: o carioca sabe fazer chacota de suas dificuldades, dar a volta por cima, sorrir no momento difícil. Tenho que reconhecer que um paulistano teria uma postura mais sisuda e séria (até demais) nessas dificuldades.

O carioca adota uma frase que guardei de uma palestra que assisti há algum tempo: age "com alma e com calma", o que o torna uma pessoa diferenciada (no bom sentido, hehe). A seriedade é fundamental para se ter êxito em qualquer âmbito da vida: nos estudos, no trabalho, nos relacionamentos. Mas o excesso de fleuma pode ser bem tóxico para as relações sociais: é fundamental saber tirar um sorriso, saber rir-se de si mesmo, tirar uma onda diante de uma dificuldade a se enfrentar. Me vem à cabeça o exemplo de Sir Thomas More, antigo chanceler da Inglaterra que, condenado à forca, tirou um sarrinho de seu carrasco, lhe pedindo para fazer bem seu trabalho e orientando a mira do machado que o decapitaria. São Paulo, em sua defesa diante do César, também tira um barato com as correntes que lhe algemavam. Os exemplos recentes de bom humor sadio diante de dificuldades também são contagiantes. E tenham certeza: eles são fundamentais para encararmos os desafios de maneira mais serena, menos tensa e estressada!

Agir com alma e calma nos dá a paz de espírito para tomarmos as mais importantes decisões de nossas vidas ou do dia. É difícil imaginar decisões bem tomadas com excesso de frio na barriga, tensão e taquicardia. Não é à toa que os especialistas recomendam que, na véspera do vestibular se descanse, faça uma atividade relaxante. Da mesma forma, é indispensável termos em nossa semana de trabalho esses momentos de paz: uma cervejinha (ou refrigerante) com os amigos, um cinema, um esporte ou a partida de futebol de seu time de coração. Contar uma piada no meio do expediente, fazer um comentário engraçado e de bom gosto numa aula ou junto aos amigos, dar um sorriso para aquela pessoa ao encontrá-la no ponto de ônibus... tudo isso faz nosso dia, nossa vida serem mais gostosos e "suportáveis", como bem disse Santa Teresa, que não abria mão da música e do bom vinho nos recreios ou festividades em seu convento, nem de comentários engraçados com seus amigos.

Que tal sermos um pouco mais cariocas? Pôr alto-astral onde estivermos, diante de um ônibus lotado, uma nota baixa ou um dia feio, sem perder o rebolado. Caras fechadas e ar antipático só ajudam a tornar o dia mais feio e a cordilheira dos desafios mais íngreme, além de afastar as outras pessoas, tão necessárias para que tenhamos êxito. Repetindo: isso em nada é oposto a noção de seriedade, pois é possível ser sério e pontual em nossas tarefas sem deixar de dar o toque de caridade e bom humor, que a deixam com aquele tempero saboroso de dever cumprido! Os dias de trabalho e tarefas sairão menos custosos e mais prazerosos, tanto para nós quanto para os outros.

Vale dizer que esse ato de rir-se de si e ter bom humor em nada se parece com a risada tola, de fachada. Quem age com alma e calma em seus ambientes sabe bem dosar a carioquice com a paulistanice: a alegria com a seriedade, no momento certo para cada uma, de maneira que ambas se confundem e saem naturalmente, sem encontrar fronteiras. Achemos, pois, nosso equilíbrio Rio-Sampa, tendo em tudo e com todos alma e calma!

Rio de Janeiro/São Paulo, 31/05/2011. W.E.M.

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