Porém, não é raro encontrarmos aquelas pessoas para as quais tudo são trevas: pessimismo, tristeza, lamentações: se o salário atrasou, "droga"; se adiantou, "droga", pois veio baixo. Não encontrou alguma vez aquela pessoa que nunca se contenta com a previsão do tempo do dia? Se chove, se faz frio ou calor, se está um dia agradável, não importa: é preciso reclamar e extravasar a tristeza e decepção. Tantos motivos de alegria, e por que a tristeza?
Tristeza. Uma reação do ser humano que vem levando clientes ao psicanalista e pessoas ao beiral da ponte ou alto do prédio em cada vez mais proporção. Tristeza que muitas vezes leva a tragédias, como a que vimos nos últimos dias no Rio de Janeiro, pois quando a tristeza leva ao desespero quase sempre leva as pessoas a situações fatais. Tristeza depois da "ficada" com mais de dez na balada, da garrafa vazia de cerveja, de não conseguir um aporte financeiro desejado, de não ganhar na Mega-Sena ou mesmo de ver seu time campeão. Tristeza. Afinal, ela é do bem ou do mal?
É preciso apontar antes de mais nada que é absolutamente normal termos nossas angústias, um sofrimento, uma vontade de chorar por algum motivo. Não temos coração de pedra, somos de carne e osso que se comovem com o próximo, com uma lembrança, uma saudade. Ouvi recentemente uma música no Youtube cujos comentários diziam com razão: "como não chorar ouvindo essa música?". Faz parte da natureza humana se comover pra bem ou pra mal. A questão está quando essa comoção, esse aperto no peito nos levam a uma melancolia doentia, ao invés de ajudarem para nossa edificação de caráter.
Justamente essa é a diferença: quando as lembranças e os eventos no dia-a-dia nos fazem refletir, se comover e levantar a cabeça, não temos tristeza, mas sim emoção extravasada em laivos de sentimento que vão nos fazer aprender e crescer como ser humano, limpando os erros. Agora, quando essas mesmas lembranças/sentimentos começam a formar a cadeia do desespero ao nosso entorno e nos deixam à mercê da depressão e sensação de impotência, temos aí a tristeza, que vai sufocar e te levar a fazer as piores besteiras. A tristeza por si só repele amigos e grandes decisões, e nos deixa vulneráveis à solidão, aos maus sentimentos, a atitudes impensáveis. Por mais que tenhamos sofrido um revés, engana-se quem pensa que a solução é ficar triste e ir para um canto chorar, e ficar ali o quanto puder. Como um amigo comentava, "tristeza só serve para trazer mais tristeza". E é fato: não lembro de alguém que tenha achado a solução para seus problemas ao se render a um aspecto cabisbaixo.
O remédio contra qualquer cutucão de tristeza é pensar nos outros. Pois a tristeza se alastra por nós quando estamos por demais ensimesmados, mergulhados em nosso eu. E quanto cedemos ao eu, transformamos a tristeza em uma bola de neve que só vai aumentando, aumentando, até nos sufocar. Nunca está triste quem está cercado pelos entes queridos e que os prioriza, fazendo cada atitude do dia estar oferecida a esses seres queridos. Você, que está triste agora: já pensou que várias outras pessoas dependem de você para esboçarem um sorriso, trabalharem ou estudarem melhor ou ganhar o dia? Que uma atitude cordial sua (um bom-dia, uma piada, a lembrança do aniversário, o simples ato de escutar...) podem dar um giro na vida dessas outras pessoas?
Que, juntamente com a Páscoa, se estabeleça em nós um tempo de tristeza zero. Temos muitos a alegrar e muito com que nos alegrar sempre: basta parar um pouco, refletir e desviar das armadilhas diárias da tristeza, que só quer nos afundar. Uma FELIZ Páscoa mesmo a todos, ok?
São Paulo, 21/04/2011. W.E.M.
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