quinta-feira, 7 de abril de 2011

Crônica - Ano IV - Nº 158 - "Sacrifício"

Esta crônica é escrita num período especial para a cristandade, especialmente para os católicos: a Quaresma, tempo de reflexão, de pensar com mais carinho no Criador e no sacrifício que Cristo fez por nós, e de retribuir, porque não, um pouco desse sacrifício, por Amor Dele.

Entretanto, boa parte da humanidade atual criou uma repulsa tremenda por essa palavra de dez letras: sacrifício. Há gente que se escandaliza pela penitência de alguns, pelo sacrifício de outros, pelo "masoquismo" que alguns fazem. Atualmente há uma exaltação nunca vista antes do "bon-vivant", daquele que consegue sem esforço tudo o que quer, sem precisar correr atrás. Vi recentemente uma reportagem de certa "pseudo-celebridade" que enriqueceu de uma hora pra outra em um desses famosos "reality shows", vibrando e fazendo apologia ao próprio ócio. "Minha vida são eternas férias", diz o camarada, que parece ser boa gente, mas pelo visto caiu na ladainha do pouco esforço e, por meio de seu "exemplo" e influência, leva com certeza a vários outros a pensarem dessa forma.

Afinal, será que no mundo de hoje quem se esforça é um idiota? É melhor jogar tudo pro alto e juntar-se aos que apoiam a molezinha? Em caps lock: NÃO.

Se a molezinha traz consigo ganhos materiais, não se pode dizer o mesmo quanto aos valores éticos e morais. O bem-bom é o melhor amigo da frivolidade, do fútil. Quem adere à linha da moleza até aumenta os lucros, mas corre sério risco de escorregar no caráter. O baixo nível no entretenimento, na educação, a apologia a uma sexualidade desenfreada e à trapaça, nasceram justamente por meio da lei do menor esforço. Em conversa com alguns adolescentes, vi a sede de alguns por querer fugir de uma vida sacrificada: "eu tenho amigos", "penso nisso mais tarde", "tem gente que consegue o que quer roubando ou sendo pilantra" são algumas falas (não à toa, os traficantes conseguem muitos adeptos nessa faixa de idade). O pior disso tudo é que não são somente adolescentes que estão alimentando essa linha de raciocínio: muitos adultos, "bem barbados", adotam esse pensamento. "Vou enriquecer fácil, depois beber e gozar a vida: adeus, sacrifício!", pensam alguns. E em prol desse sonho, não hesitarão em enterrar qualquer valor ou ética, em nome do status ou da conta bancária gorda.

O sacrifício emerge do amor verdadeiro. Mostra esforço, entrega, coração naquilo pelo qual se batalhou e correu atrás, e traz resultados incomparáveis. Pensemos nós mesmos: valorizamos mais as conquistas onde tivemos que correr atrás e se sacrificar para obter, do que o que veio fácil, na mão: um carro, uma namorada, um trabalho, um diploma... quando suamos a camisa por eles, são mais valorizados! Um 1x0 num clássico muitas vezes é mais lembrado que um 5x0 contra um time pequeno. Uma pessoa disse recentemente que "o que vem fácil, vai fácil", o que é um fato.

E esse sacrifício vem com bônus que fazem a diferença: a formação de um caráter firme. Quem se sacrifica com gosto (não com cara amarrada e resignada, mas sim com um sorriso no rosto e com orgulho do suor de mais um dia de batalha) sabe ser mais amoroso com o que tem, sabe ser austero na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza; valoriza mais as pessoas que tem ao lado, tem ordem, constância, força de vontade, garra. Um diamante, a pedra preciosa mais dura que existe, quebra, mas a pessoa que não tem medo do sacrifício não quebra. O sacrifício, enfim, forma Homens com H e Mulheres com M, que vão deixar um rastro verdadeiro de luz no mundo e jamais se apagarão. Se alguém vier com a conversinha de que você está sendo bobo se sacrificando, não dê bola. Esses só querem que você desista, pra depois tirarem onda de sua cara, e no fundo te invejam.

De nosso sacrifício dependem pessoas e obras grandiosas, que valem a pena, como diz um homem santo que conheço bem. Como diz o lema dos halterofilistas e que serve bem pra nós, "no pain, no gain". O resto é mentira deslavada.

São Paulo, 07/04/2011. W.E.M.

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