Em primeiro lugar, quero discordar de meu irmão quando ele afirma que ser sensato é ser "certinho", inflexível com o correto. Pelo fato de que por mais que fôssemos certinhos, erraríamos, ainda bem! E talvez justamente por se fazer essa analogia do sensato com o "certinho", é que essa palavra e virtude, por mais que sejam positivas, seja ridicularizada por muitos.
O homem ou mulher sensatos são aqueles que sabem qual a atitude e postura corretas, porém não se descabelam quando põem um milímetro de pé fora da linha. Antes disso vão lá, admitem o erro e começam a luta novamente. O sensato é a pessoa que simplesmente sabe dar "nome aos bois", isto é, sobre o que seria certo ou errado fazer naquele instante, mas nem por isso cai num legalismo, numa compulsão absoluta por uma folha de conduta e serviços sem erros, impecável.
Nas aulas sobre motores, em meu curso técnico em eletrônica, lembro que o rendimento máximo que um motor muito potente poderia obter era de cerca de 30%, isto é, um motor com condições ótimas só poderia render em força motriz cerca de 30% do total da energia que chega até ele. E assim é com o ser humano: nossa força-motriz não chega a 100%, e o que temos de fazer é buscar o rendimento máximo. Mas nem por isso se lamentar, espernear quando estivemos nem nos 10%. E isso é sensatez: ter a visão daquilo que se está acontecendo realmente, sem jogar para baixo do tapete sua consciência da postura e atitudes corretas. Não há um limite de sensatez: sempre é o momento de se tomar uma atitude correta, ponderada.
Ah, mas tem aqueles que acham que excesso de sensatez faz mal, que é preciso tomar de vez em quando o caminho do erro. Vi um e-mail recente onde se afirmava que obedecer e ser sensato é assinar um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado. Ou seja, que é preciso ser um insensato e imprudente. Seria isso: ser sensato está demodê, ultrapassado? A resposta é não: o homem verdadeiramente sensato não renuncia ao inesperado, porque ele não confunde sensatez com pusilanimidade. Ele sabe o momento de arriscar, dar algo mais, sem pra isso se tomar da trapaça ou de meios ilícitos. Não é a mesma coisa arriscar-se a mais pelo amor de uma pessoa ou arriscar-se por aí no crime, nas drogas, no sexo desenfreado com uma qualquer, numa vida sem limites, sem doutrinas, ideologias ou ideais... Não, por "isso" é muito melhor ser sensato. De insensatos os cemitérios, clínicas e manicômios estão cheios.
Não caiamos no conto de que é brega ser sensato. A sensatez, muito pelo contrário, é uma virtude que atrai, principalmente aqueles que num primeiro momento abraçaram a insensatez de uma vida desregrada de tudo, pois na hora da queda ou dificuldade a primeira pessoa que irão se lembrar é daquela pessoa sensata, que nunca deixou de lhe estender a mão nem tacou pela janela seus valores. Quem foi mais sensato: o filho pródigo da parábola, que tinha seus direitos e, num acesso de insensatez queimou seus direitos com uma vida desregrada, ou o pai amoroso, que de maneira sensata não recusou ao filho sua herança e sempre esteve de braços abertos pra ele, na vitória ou derrota? E tem mais: justamente esses que acham cafona a sensatez é que cobram a mesma na política, nas relações de família, no trabalho. Afinal, para estes, sensatez é do outro para comigo; agora de mim para comigo mesmo ou de mim para com o outro seria uma outra história... Insensatos estes, não?
Não tenhamos limites na sensatez. Ser o chato "certinho" é muito diferente de, mesmo com nossos defeitos, sermos corretos e pessoas de bom senso... boas referências, das quais o mundo nunca se cansará!
São Paulo, 19/09/2010. W.E.M.
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