Peraí... acabou, mesmo? O que que será que podemos dizer que acabou?
Ao acessar os sites e programas de televisão um dia após o término da Copa (e mesmo na noite de Domingo), ou ao sentir o clima aqui no Brasil após a eliminação da Seleção, percebi um certo clima de "sessão nostalgia": acabou a festa, a Copa, a alegria, a torcida.. Um jornal fez questão de mostrar o estádio vazio, cabos no meio gramado, o circo sendo desmontado. Com um inevitável ar melancólico, bem parecido com o final do Carnaval, das festas de final de ano, dos Domingos (ah, "síndrome do Fantástico")... E agora? A festa acabou?
Vejam bem: de fato, a festa acabou, e será repetida daqui a algum tempo. Mas se pararmos pra pensar, toda essa festa só tem graça justamente por não se repetir todo santo dia. Que graça teria o final de semana, se não fosse aquela segunda, terça, quarta de trabalhos? Que graça teria armar uma Olimpíada ou Copa do Mundo, se acontecessem de seis em seis meses, por exemplo? Lembro de uma historinha de gibi bem sugestiva, da Turma da Mônica: certa vez, a Mônica pediu para uma estrela cadente para que seu aniversário se repetisse todos os dias. Passado um dia, tudo certo. Dois, três, quatro, ainda tragáveis... Mas depois do quinto dia, que horror! Ninguém, nem mesmo ela, suportava mais festa.
A historinha acima é bem um retrato também do ser humano. Precisamos de dias comuns, bem comuns, com trabalho, luta, estudos e tudo o que for de mais corriqueiro, para asim as festas e datas de que participarmos ganharem algum sentido e nos proporcionar, de fato, uma diversão garantida. Ah, mas isso não seria "profissionalite", "caxiismo"? De jeito nenhum. É através da valorização de nossos afazeres e dos dias comuns que podemos valorizar um acontecimento especial ou os dias de descanso ou festa. Um amigo meu comentou uma vez do "poder transformador da festa": onde quem não se conhece conhece, a alegria rola solta, os problemas são deixados de canto, e por aí vai. Mas esse poder transformador só surte efeito quando não aplicado em excesso: afinal, como vovó já dizia, "tudo o que é exagerado faz mal". Dito e feito: a festa vira rotina, quando isso acontece.
Portanto, não nos iludamos com os discursos tétricos daqueles que dizem hoje que a festa acabou. Não, a festa da Copa e de qualquer outra coisa não acabou. Ela tá rolando nesse exato instante, ao fazermos o que temos de fazer, pois é dessa forma que já estamos preparando o terreno para a próxima festança ou acontecimento que há de vir, que estarão baseados no sucesso em nossos dias comuns. Ninguém aguenta caviar ou arroz com feijão todo dia: é preciso variar bem a "mistura". Mentem os que dizem que o que vale é festa todo dia, mas de boa: o tempo e a pasmaceira cuidarão deles com muito carinho.
Valorizemos, pois, esses nossos dias pacatos de trabalho e batalha. Afinal, são eles que preparam o terreno de cada confraternização que nós, seres humanos, estamos fadados a participar. Por isso, acertaram aqueles comerciais e emissoras que divulgaram: "a Copa 2014 já começou". Sim, a Copa 2014 já começou, assim como as Copas 2018, 2022, Olimpíadas, aniversários, finais de semana...
Começaram aqui, no "comum nosso de cada dia".
São Paulo, 14/07/2010. W.E.M.
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