quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crônica - Ano III - Nº 126 - "Perdão: um tabu"

É curioso perceber como o mundo de hoje está focado na derrubada de "temas-tabu": sexo, direito de homossexuais, greves e tals, entre vários outros. Porém também é interessante notar como esse mesmo mundo também criou novos tabus para serem discutidos. Desde a discussão e negação da existência de Deus por parte de uns, passando pela vida "ecologicamente correta" (nada de carne, bebida ou consumir tal produto em determinado "fast-food", e sim tudo verde, 100% reciclado), até chegar em um tema que quero falar nessa crônica: o tabu do perdão.

É comum ver nas telenovelas da atualidade ou em entrevistas de gente famosa e mesmo anônimos, falas e atitudes dizendo: "não consigo perdoar fulano de tal", "não o perdoo", "beltrano é desafeto de ciclano"... Para muitos, perdoar é um verdadeiro parto, é sinal de fraqueza. Ouvi semana passada que um termo raramente utilizado no Japão é "perdão", pois não é corriqueiro na cultura daquele país pedir desculpas. Assim como um ato falho de determinada pessoa geralmente não passa batida nas rodinhas de "amigos": sempre há alguns espíritos de porco prontos para zombar maldosamente dos defeitos ou posturas alheias.

Seria possível escrever uma crônica inteira ou muitas outras sobre como os valores mais básicos do ser humano vêm sucumbindo ao materialismo ou ao hedonismo. Mas vamos nos centrar na questão do perdão e ser perdoado. É notório como muitos egos de hoje em dia vêm se inflando com toda a força, e como é fundamental, para alguns, demonstrar força e esconder as fraquezas.

Pessoas hoje são respeitadas mais por brigas e cusparadas do que por um pedido de desculpas, por mea-culpas ou por terem perdoado. Na última semana, vimos um jogador de futebol assinando sua "sentença de condenação" depois de xingar em jogo um companheiro de profissão e os holofotes não ficarem para suas desculpas públicas, mas para seu ato; e ainda, tablóides sensacionalistas e diversos sites execrando as coisas da Igreja e deixando de canto o pedido de perdão (vi isso, ao procurar um link em certo site: um banner para os escândalos, e um link mixuruca para o pedido de perdão). Ou ainda, voltando no tempo, lembramos do jogador que saiu ovacionado por ter xingado os parentes de certo companheiro de profissão e sequer ter pedido desculpas, numa final de Copa... e o golfista famoso que perdeu vários patrocínios após escândalos sexuais e que não voltaram, mesmo após um sincero pedido de perdão. Depois de todos esses fatos, vejamos: perdoar é a moda? Pedir desculpas é "fashion"? Ou virou um tabu, uma coisa de molóides e sem-noção?

Assim, eis uma boa meta que poderia ser colocada como mais uma das metas para o milênio feita pelas Nações Unidas, em 2000: resgatar os valores universais de ética, conduta e cidadania, sendo um deles o perdão/pedir perdão. Ou simplesmente, pra começar: perdoar mais e não ter receio de pedir perdão. Uma grande atitude do homem do século XXI, contrariando essa crise de valores, é perdoar e pedir desculpas. É, como diria Cristo, perdoar "setenta vezes sete", ter um coração aberto, disposto a sempre dar uma chance para a humanidade, sob a forma de um único ser humano. Matar a oportunidade de uma pessoa se redimir ou começar de novo é onde se mostra a fraqueza do homem, pois mostrará um homem preso ao egoísmo, à pose, que não sabe descer do salto quando é necessário, e com quem será difícil contar, já que ele vai é levar em conta mais seus interesses do que a melhora ou o crescimento do próximo. E já que tanto se fala de solidariedade, será que haveria uma sincera solidariedade num ser humano que não saiba perdoar ou pedir perdão?

Portanto, antes de partir para fazer aquele trabalho voluntário, ou fazer aquela caridade ou deixar dinheiro em tal casa assistencial, que tal perdoar, ou pedir desculpas? Vamos colocar a palavra "perdão" de vez junto com nossos principais verbetes? Essa com certeza será uma colaboração e tanto para a construção de um mundo "sustentável".

São Paulo, 28/04/2010. W.E.M.

Nenhum comentário: