Me inspiro nessa crônica em minha atuação como professor, lidando com joviais consciências de garotos e garotas de minha comunidade. É surpreendente como algumas dessas crianças praticamente não diferenciam o certo do errado, não têm noção de valores, família, estudos, etc. Duro constatar que muitos desses pequenos talvez não tenham tido um "trabalho de base", uma anterior oportunidade de formarem sua consciência em bons ambientes, uma família atenciosa ou uma boa educação inicial. Muito pelo contrário: garotos de 10, 11, 12 anos com problemas tão dramáticos quantos o de um adulto, em vários casos sob condições de vida terríveis, com brigas, pobreza, indiferença... Resultado: meninos e meninas chegando à adolescência sem perspectivas, e capazes de ter comportamentos e modos de ver a vida assustadores. Ausência de consciência, ou pior: uma deformada consciência.
Hoje, lendo uma coluna de um famoso e contundente colunista, vi um interesante comentário-crítica falando de nossa atual era como "uma era de espetáculo e derrubada de certezas, (...), um mundo de uma incessante paisagem de bundas e seios nus, hipersexualizado, que nos espreita no trânsito, nas ruas, na TV". O que de fato a cada dia está mais comprovado: hoje mesmo também duas professoras falavam sobre um medonho incidente na escola, onde meninas de 12 anos dançavam de maneira "ousada" um funk que um colega delas ouvia, até certo momento onde o vizinho da escola resolveu participar da festa e ficou nu, de sua casa, de frente para a escola, se exibindo para as garotas que o "provocaram". nem preciso falar aqui também sobre a qualidade da música, dos "passeios" e lazer desses meninos, de como eles já em idade precoce não sejam mais vistos com a devida inocência, e vice-versa. Onde está, pois, a consciência?
Deve-se colocar como prioridade o trabalho de base com esses meninos. Ouvi recentemente certa frase de um amigo: "faltam educadores, não professores". Muitos de meus colegas de profissão (me incluo no balaio) tem a dificílima tarefa de lidar com muitas mentes jovens que perderam pelo caminho (ou sequer tiveram chance de conhecer o próprio caminho) a própria consciência. Num país de considerável crescimento demográfico, é preocupante observar o quanto surgem meninos cada vez mais jovens expostos e compactuantes com um mundo de perversões, violência, indiferença, monetarização, relativismo e tudo o mais. Os órgãos, instituições e pessoas competentes para colocarem a formação de consciências desses meninos nos eixos pisam na bola, e o resultado já falamos acima. É questão prioritária eu, você, esses mesmos órgãos, pessoas e instituições verificarmos qual a nossa parte para fortalecermos essa jovem geração e não deixar que esses garotos penem num futuro nada distante, sem horizontes e perspectivas, já que toda a "bundalização" citada pelo colunista, que já capturou muitos meninos, volta para acertar as contas de maneira cruel.
Assim também evitaremos que esses garotos cometam outro terrível erro: agir contra a própria consciência. Uma consciência fortalecida, com valores imputáveis, ciente do certo e do errado, permite um consequente fortalecimento da educação e do aprendizado, e que se saiba de fato o que fazer em cada situação. É fundamental saber firmemente o que se quer, sem indecisões, ou ainda: sem travar um duelo com a consciência. Ou pelo menos, uma consciência bem formada permite termos em nós um excelente "sinal de alerta", que nos diga quando estamos em perigo.
Eis um desafio nesse século XXI: formar consciências. Desafio que vale mais que qualquer valor salarial ou "bônus", tema que hoje, infelizmente, anda sendo mais discutido nas salas de professores que as jovens consciências a serem trabalhadas. Mas aí é assunto pra outra crônica...
São Paulo, 20/04/2010. W.E.M.
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