Em contraste com esse tema, na escola onde leciono certa professora manifestou de maneira escancarada sua ambição monetária. "Eu rapidinho largaria a escola pública para ganhar mais numa escola particular, e você deveria fazer o mesmo". Eis a "incentivadora" frase de minha colega de profissão, que pelo visto coloca os cifrões na frente dos desafios como professor da rede estadual. Talvez por ela não devesse mais haver professores na rede. Deixarei o tema do trabalho como professor para uma próxima crônica: nesta, quero focar a questão da ambição, da influência do dinheiro em nossa sociedade.
É bom delimitar a diferença entre a ambição boa e a má. A ambição boa pelo dinheiro conversa diretamente com a virtude da justiça: é ingenuidade não ganhar o justo para a subsistência própria e da família. Semanas atrás vi uma reportagem de um economista que vive sem dinheiro, de maneira errante: "pra quê dinheiro? Não preciso de dinheiro! Eu consigo!". Só que esse economista não tinha família, filhos e vida social, e nem é preciso dizer de como seu estilo de vida passa longe de uma pessoa normal. O dinheiro é meio fundamental para garantir um padrão digno de vida, sendo que ele sequer é algo recente: já na Antiguidade vemos falar de moedas, dracmas, asseres e outras unidades monetárias. Fechar os olhos para sua necessidade e esperá-lo cair do céu é, no final das contas, uma tolice.
Por outro lado, o dinheiro é meio, e não fim. É aí onde entra a ambição má. Graças a ideologias e planos econômicos diversos que passaram a dar protagonismo ao dinheiro, esse último passou a ser um verdadeiro "cartão de visitas". Vai casar ou namorar com fulano? Veja quanto ganha ou quanto dinheiro ele tem. Vou trabalhar até esgotar ou se necessário passando a perna no colega de trabalho, para conseguir mais dinheiro no final do mês ou um cargo melhor remunerado. Da mesma forma, o protagonismo do dinheiro aparece na ostentação: muitos perdem a cabeça se circulam com um celular com mais de três meses de uso ou com um tênis mais simples, ou um carro nacional menos sofisticado. Certa vez, uma amiga minha me falou de um colega seu de serviço que tinha como objetivo de vida ganhar muito dinheiro e mostrar que é poderoso. Pra mim, tá mais para um futuro doido varrido ou um excelente cliente de carpideiras de cemitério pagas com seu próprio dinheiro.
Histórias absurdas de ambições desmedidas poderiam ser colocadas a seguir (você mesmo deve conhecer uma). Todas dão uma mostra de como tantos e tantas olham primeiro os valores monetários antes dos valores pessoais. Será que virei também um escravozinho barato do dinheiro? Sou um eterno insatisfeito, que precisa ganhar mais e mais para satisfazer seus caprichos?
A bola da vez é o custo de vida. Dá pra fazer muito com um salário um pouco inferior bem utilizado e planejado, e pouco com um estrondoso salário mal aplicado. Como? Não cedendo à tentação da "última moda", de querer ter tudo do que está sendo lançado ou é "fashion", por exemplo. Ou ainda: não esbanjando nas bebedeiras ou luxos da vida, e sendo uma pessoa parcimoniosa nas refeições, nos passeios, no consumo em geral, gastando o que se deve. O grande perigo está na ostentação que o dinheiro traz consigo, sob a forma de dinheiro vivo ou bens. Não vale a pena ficar juntando quinquilharias ou entrando em dívidas só pelo desejo de ostentar. Como diz o lema da CF, "não se pode servir a Deus e ao dinheiro". O dinheiro, na verdade, quando bem utilizado é colaborador das ações mais divinas, pois colabora com a justiça, a eqüidade, a família e muitos outros tesouros e valores legítimos.
"Tem mais aquele que precisa de menos", diz uma expressão que conheço. Usemos o dinheiro para servir uma sociedade mais justa, e que dessa forma precisemos menos dele para construir a noção de felicidade.
São Paulo, 21/02/2010. W.E.M.
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