Quero então aproveitar a deixa pra falar um pouco sobre a mística deste número, o 100, pra mim o mais simbólico de todos os números, e a sua relação com as festas. Basta pensarmos em nossas expressões corriqueiras: "hoje acordei 100% recuperado da gripe", "nossa meta é atingir 100% de aproveitamento neste campeonato", "hoje é o centenário do nascimento/morte de ...". Quando colecionava gibis (já tive mais de 500), percebia a mística do cem: quando um personagem chegava à revista 100, era um número todo especial, mais caprichado: até hoje é assim. O cem, de fato, não é um número qualquer.
Ao lembramos do número 100, rapidamente podemos lembrar de festa. Quero aqui falar, como gosta de dizer um de meus grandes amigos, sobre "o poder da festa". Santa Teresa (cuja festa caiu no último dia 15/10), ao fundar seus diversos Carmelos pela Espanha do século XVI, sempre deixava um intervalo generoso para a recreação das monjas. Dizia: "são momentos como o da recreação que torna esta vida de cá suportável". E é verdade: em nossa vida também fazem parte as festas. Uma festa de aniversário, um happy-hour com uma cervejinha nas sextas-feiras, um amigo secreto e muito mais: festas que nos fazem recarregar as baterias, esquecer um pouco a tensão do cotidiano, e reencontrar e pôr o papo em dia com a família ou com a galera.
Conto aqui meu caso, na última sexta-feira: após uma semana exaustiva, com reuniões, provas, aulas e projetos (entreguei um projeto às dez da noite de sexta, após uma prova), estava zonzo. E, ao pé da escada, encontro uma roda de amigos me chamando para ir a uma festa no prédio vizinho: não me fiz de rogado, e fui com eles. Dancei, tomei uma cervejinha (moderada, viu: nunca passo de duas), pus a conversa em dia... No fim das contas recuperei as forças, e mal senti os efeitos daquela semana duríssima.
Várias vezes falei em minhas crônicas sobre a questão do sofrer, e a participação que ele tem em nossas vidas por meio de tantas contrariedades. Mas, de tal forma, esta vida ganha sentido com as alegrias, as festas, as datas especiais. Momentos de lazer e confraternizações são essenciais para que não piremos ou nos afoguemos no sufoco do dia-a-dia. Uma pessoa que não sabe festejar facilmente vê tudo "cinza", entrega-se a caras amarradas ou à ressaca de Domingo à noite (mais conhecida como Síndrome do Fantástico).
Festejar bem está em dois pontos: 1-) Moderação: não é sinônimo de festejar bem ficar bêbado ou "doidão". É triste encontrar jogado feito um farrapo, nas calçadas, várias pessoas que "festejaram" além da conta, sem medir consequências, entregues a uma psicose na qual já estão viciadas. É muito melhor festejar consciente, no sentido literal da palavra; 2-) A vida não é uma festa: tem gente que acha que é festa 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não é por aí: a batalha da vida sempre está nos esperando. Festejar equivale a um pit-stop em nossas correrias: agora, imaginem um carro parado indefinidamente no box, em seu pit-stop? Pois bem: quem encara a vida como uma eterna festinha corre o risco de nunca sair do box, e jamais encarar com a devida maturidade os desafios que ela propõe. A festa vai de mãos dadas com o suor da batalha, com os pequenos e grandes sofrimentos que tivemos e que irão justificar o festejo. Tapar os olhos ao sofrer é cair nesse discurso e, no fim das contas, fazer uma festa falsa.
Portanto, sem medo de parar um pouco e festejar os "100" que aparecem em nossa vida. Pois do saudável festejo também tiramos forças para chegar aos 200, 300, 1000...
São Paulo, 19/10/2009. W.E.M.
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