segunda-feira, 16 de março de 2009

Crônica - Ano II - Nº 70 - "No silêncio do trabalho"

Dia 19 de Março, conforme comentado em uma crônica anterior, temos a festa de São José. Poderia ficar horas e horas falando sobre as virtudes que este santo nos ensina, de suas intercessões, de como ele socorre na hora do aperto.

Desta vez vou falar não de uma virtude específica dele, mas em como se deu a passagem de sua vida: em silêncio. E como esse silêncio é exemplar para todos nós.

Quem tiver a curiosidade de procurar dados sobre São José em qualquer Evangelho talvez se frustre. Pouco apareceu, não nos deixou nenhuma palavra ou texto de sua autoria, não fez milagres ou aparições espetaculosas. Porém toda vez que apareceu se mostrou trabalhando quietinho, cuidando da Sagrada Família. Obedecendo a Deus, sem estardalhaços: "levantou-se e foi", essa é uma passagem freqüente na narração de suas aparições.

A conduta que José nos ensina é esse trabalhar em silêncio. Soube como ninguém enfrentar a provável monotonia dos dias e suas duras provas. Mostrou como se transforma o casual em uma constante novidade: através de um silencioso empenho e serenidade, pois sabia que dessas ações comuns diárias dependia o sucesso de uma empreitada Divina!

Para nós, muitas vezes um dia só possui brilho quando há algum mirabolante acontecimento. Se o dia foi secamente trabalhar-estudar-dormir, foi um fracasso: pouco colaborou comigo e com os outros à minha volta. Foi como comer uma verdura sem qualquer tempero: insosso. O que não é verdade.

Numa das calçadas do prédio da Geografia da USP, há uma "estradinha" de formigas. Todas andando em fila indiana, carregando sua folhinha, sei lá quantas vezes por dia (tem algum biólogo aí pra dizer quantas vezes a formiga faz esse trajeto por dia, heheh?). No final da estradinha, um belo formigueiro, com "status de cidade". Dentro dele, muito provavelmente suprimentos e segurança para todas aquelas formiguinhas. E uma certeza: cada formiga daquela foi colaboradora direta para que se chegasse àquela atual estrutura. Experimente desmanchar só um pouquinho do formigueiro: rapidinho lá vão as formigas recompor a parte desmanchada. Em silêncio, sem alarde.

Óbvio que não podemos comparar o raciocínio humano ao da formiga, mas podemos fazer um paralelo entre os cotidianos. Também temos nossa "fila indiana" diária do trabalho, corremos atrás de segurança e suprimentos, e fazemos muitas vezes a mesmíssima coisa, enfrentando diversas contrariedades para chegar a estes objetivos: uma chuva, um ônibus lotado, uma dor nas costas e por aí vai. Mas o problema está quando sobe o sangue, esperando algo novo, que mude tudo (o que nem sempre acontece), e no fim das contas odiamos a monotonia dos dias, se achando a pessoa mais infeliz do mundo. Justamente quando a felicidade está aí, nesse cotidiano.

Podemos construir um belo "formigueiro" por meio dessas ações tão corriqueiras. Para isso basta ter a certeza não de estar mexendo em papéis ou clicando no mouse, mas estar dando sua parcela de contribuição para a construção do projeto. Do meu fiar, sairá uma roupa de imenso valor; do meu lecionar, sairão grandes cabeças e homens; do meu digitar, sairá um importante documento para a empresa. Temos que valorizar nossas ações cotidianas, dando a elas status de grande importância, sim senhor!

Sempre surgirão obstáculos internos e externos. O que não podemos fazer é transformar esses obstáculos em desculpas pra "chutar o balde" com tudo e todos ou desvalorizar o que estamos fazendo. Muito pelo contrário: quando concluirmos a tarefa designada, se não tememos os obstáculos, valorizaremos mais o resultado final. O que fica mais na memória: um clássico vencido na raça, por 1x0, ou uma "pelada" vencida por 6x0?

Valorizemos esse "silêncio do trabalho" diário. Pois neste suposto "igual" dos dias está o segredo das obras de valor eterno. Que o diga São José!

São Paulo, 16/03/2009. W.E.M.

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