Crônica - Ano II - Nº 69 - "O fenômeno do recomeçar"

Eu curto futebol, todos estão cansados de saber. Neste Domingo não foi diferente: em casa, assisti a mais um Derby (Palmeiras x Corinthians). E não me arrependi, pois ganhei a inspiração para a Crônica da semana.

Neste mundo estamos tanto a um passo da alegria como do abismo. Hoje estamos cercados de pessoas oscilantes quanto ao estado de humor: ora podem chegar com um sorriso exuberante, ora podem descarregar sua fúria. Amigas e amigos desabafam por aí que estão num inferno astral difícil de sair. Some-se a isso um tempo calorento, o estresse do ônibus, o chefe irritante, e poderemos chegar à seguinte conclusão: Chega! Não dá pra mudar essa situação! Ou empurrar com a barriga: "não tenho opção, vou encarar por encarar essa situação".

E agora vocês perguntam: qual a relação da situação acima com um Derby Paulista?

A relação está no que aconteceu aos 48 minutos da segunda etapa daquele jogo.

Alguém muito conhecido nosso, que não é lá um belo exemplo de conduta extra-campo para nós e nossas crianças, conseguiu dar esse exemplo cobrado dentro de campo. Deu-nos um exemplo de como é possível, sim, diante dos erros e revezes, dar a volta por cima. Deu-nos exemplo do que o homem precisa fazer diariamente, para não sucumbir ou resmungar diante de dias e situações difíceis: recomeçar.

Há uma frase famosa que diz: "a pessoa mais santa desse mundo pisa na bola no mínimo sete vezes por dia". Imagina nós, então, que não somos santos! Andamos todos os dias na berlinda, e podemos trombar nestes com situações desagradáveis, e cair nos erros e fracassos. Fica-nos a opção: ou "pedir pra sair", parafraseando Capitão Nascimento, ou encarar essas situações com vigor e jogo de cintura, atropelando-as e ressurgindo como a lendária fênix.

Tanto o "céu" da terra como o Céu estão reservados para os que não abaixam a cabeça na derrota, ou ficam reclamando dos erros próprios e alheios. A Quaresma prega o reconhecimento da maré braba, mas prega também encarar essa maré com serenidade, sem ficar reclamando de tempestades. Aproveitemos a tempestade para fortalecer nosso jardim, ou seja, robustecer nosso interior. Aprender com os erros e recomeçar sempre.

Quem disse que é fácil encarar esse cotidiano tão rude com paz? Não é fácil, mesmo. Requer treino, estratégias. Se somos muito rudes ou facilmente "abaixamos a cabeça", podemos começar com treinos bem leves, como um bom dia, um café no serviço, uma pausa pra papear um pouco na faculdade... Depois, treinos mais fortes: um passeio, um sorriso não forçado, ir assistir um filme bem acompanhado... Até atingirmos patamares avançadíssimos de serenidade e aprendizado diante de momentos duros e defeitos próprios e dos outros. Saberemos dar a volta por cima sempre que for preciso, e nenhuma situação adversa nos pegará de surpresa, pois teremos capacidade de transformá-las em situações de glória. Exatamente como aconteceu neste último Derby: as gozações, contusões e encrencas sucumbiram diante da glória de um gol do recomeço. 

Se o dia não foi legal e a nuvenzinha negra choveu sobre a nossa cabeça, e ainda: reagimos mal a essa nuvenzinha, calma. Esfriemos a cabeça, respiremos fundo e recomecemos. Usemos o exemplo dos cientistas: a primeira equação ou fórmula deram errado, mas logo a seguir retomaram os experimentos, de olho nos resultados positivos, e quando esses vêm, quem disse que lembraremos negativamente dos maus dias? Pelo contrário: eles serão lembrados com risos e símbolo de superação. É o famoso "lema do paulistano", que contei a uma amiga, ao tomar um ônibus lotado e encontrar um trânsito terrível na Rebouças: essas adversidades são o que dão graça para gostarmos de correr e lutar diariamente.

Deus nos pede: lutemos sempre, mesmo depois do tropeço. Aí está a receita para nossos dias (e nós mesmos) serem fenomenais!

São Paulo, 09/03/2009. W.E.M.