segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Crônica – Ano II – Nº 56 – “Intolerância zero”

Outro dia, conversando com um grande amigo meu, pude escutar um caso onde a amizade deste com um grande amigo em comum nosso acabou por se romper.

O motivo? Óbvio que não comentarei aqui, mas o estopim para que a amizade terminasse foi uma primeira impossibilidade de perdão, diálogo, desse amigo em comum para com o amigo com quem conversei. Não houve possibilidade de acerto entre as partes, e essa notícia me deixou um tanto chateado.

Chega mais um mês de Dezembro, onde começa o Advento, a espera do Natal que se aproxima. E é comum toparmos com milhares de propagandas, árvores enfeitadas, papais-noéis repletos de mensagens escrito: Paz. No alto do Presépio é comum estar representada a figura de dois anjos, com uma faixa dizendo: "Gloria in Excelsis Deo, et in Terra pax omnibus bonae voluntatis" (Glória a Deus nas alturas,e paz na terra aos homens de boa vontade). E a Coroa do Advento,outra tradição natalina (na próxima crônica está em detalhes a explicação sobre ela), tem uma das velas que a constituem de cor branca, que significa paz.

Agora, será que estes populares desígnios de Natal podem ser considerados, quando justamente em querelas como a que comentei acima essa paz não prevalece?

Paz é um tema que merece mais que uma Crônica, pois pode se desenrolar por várias devido a tantos pontos necessários para que ela saia do papel. Mas o ponto que comento aqui na Crônica é: a necessidade de se ter uma postura pacífica diante dessas querelas, diante dos erros, diante das injustiças.

O ser humano, por alguns antropólogos, seria "um ser agressivo". Mas apesar de haver essa tendência eu, se pudesse mudar essa frase, completaria assim: "o ser humano é agressivo, mas pode domesticar essa agressividade". E somos agressivos não só quando enchemos a cara de alguém de bordoadas ou compramos briga. Somos agressivos também quando preferimos resolver a relação com o próximo pela via ríspida: com discussões, desentendimentos, humilhações, ausência de diálogo, rancor. São pancadas tão ou mais fortes que uma pancada de verdade, pois fere valores que o homem carrega consigo, como a dignidade e a alma.

Pôxa... Então, se estiver zangado com alguém ou a pessoa me agredir, terei que "dar flores" para ela? Não, não é isso. Uma boa solução é deixar a poeira abaixar, e repreender a sós essa pessoa ou dialogar com essa sobre a tal atitude que a levou a guardar mágoas, também a sós. É o que conhecemos por correção fraterna: ao invés da indiferença perante o erro ou a conversa mal-resolvida, ou pior ainda, ao invés da murmuração (falar mal pelas costas), olha-se nos olhos dessa pessoa engasgada na garganta e resolve-se de maneira pacífica a situação, com um escutando o outro. Eis uma domesticação deste potencial ser humano agressivo que carregamos dentro de nós.

Hoje temos um outro triste advento: o da intolerância. Basta citar exemplos de guerras civis, com pessoas matando gente de sua própria nação (houve meses atrás o caso do Quênia e sua guerra civil, confrontando etnias diferentes). Quando implodimos o diálogo com o próximo "na mão", "na indiferença" ou "nas palavras", estejamos certos de que praticamos uma intolerância tão grave quanto a das guerras civis, pois mandamos literalmente esse próximo, que poderia contribuir de alguma forma conosco mediante uma correção fraterna ou conversa esclarecedora, para "aquele lugar".

Ouvi ontem que este período de Advento que começou neste Domingo pode ser comparado a uma "faxina" em nossa alma: lustrada nos valores que temos, e o que temos de sujeira (ódio ou rancor a alguém, indiferença, murmuração, etc.), indo para o lixo. Não adianta escrever ou desejar a paz, ou admirar boquiaberto a palavra "paz" nos símbolos natalinos: é preciso pôr a mão na massa, e viver a paz com os que nos cercam, corrigindo, ouvindo, silenciando... compreendendo.

É somente rezando na cartilha da "intolerância zero" que os desejos e ações de Paz não serão planos de papel, e se tornarão uma realidade extremamente contagiosa!

São Paulo, 01/12/2008. W.E.M.

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