domingo, 7 de setembro de 2008

Crônica - Ano I - Nº 44 - "Cumprimento x Cumpro e Minto"

Setembro, para estudantes de universidade pública como eu, muitas vezes significa retomada de estudos... Afinal, não é raro acontecer uma greve que acaba por atrasar o início do segundo semestre...

E alguns fatos que pude ver de perto neste início de mês foram preponderantes para que viesse a idéia de escrever sobre um jogo de palavras que ouvi certa vez, e que nunca mais me saiu da cabeça: a diferença que há entre o cumprimento e o "cumpro e minto" de uma atividade.

Todos nós temos capacidade para cumprir com maestria qualquer tarefa cotidiana, sejam estudos, trabalho, relacionamento, visitas, esporte, etc. O homem é um ser que possui a mais plena capacidade de fazer e acontecer o que lhe cai nas mãos.

Entretanto, para que essas coisas saiam bem feitas, é preciso antes de mais nada verificar qual o limite que temos. Até que ponto seria capaz de levar adiante tal ação? Eu a levaria bem, ou a levaria "nas coxas"?

O querer "levar nas coxas" ou o famoso "empurrar com a barriga" é o melhor sinônimo que há para o "cumpro e minto". Muitas pessoas, que não costumam seguir uma linha de conhecimento próprio, acabam por testar o próprio limite e levar uma série de tarefas a cabo ao mesmo tempo. Porém, sem levar qualquer uma delas com a eficácia que estas mereceriam. Faço aqui uma analogia ao trabalho de um pedreiro: imagine este simpático trabalhador levando, ao mesmo tempo, as tarefas de levantar um muro, uma laje, pintar uma parede e rebocar um quarto mofado, sozinho. Ele até poderia fazê-lo, porém dá pra imaginar o tipo de serviço que teríamos como resultado final: uma lástima! Sem ordem, seqüência, cuidados, pausa, planejamento...

Amigos, para que o homem possa exercer de fato o cumprimento do dever, é necessário desenvolver a capacidade de conhecer bem quais as tarefas que ele levaria com a citada maestria, sem deixá-la inacabada, mais adiante. Para os católicos, Setembro também é um mês especial, pois é um mês onde se apregoa muito o uso da Sacra Bíblia e a leitura dos Evangelhos. Não posso deixar de citar aqui uma das parábolas de Cristo contidas no Evangelho (São Lucas 14, 28-33) que ilustra bem a ineficácia do "cumpro e minto": a da torre inacabada. Quem que não se senta primeiro, ao construir uma torre, para calcular as despesas suficientes para terminá-la? "Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pode acabar". Pois é: quem segue o "cumpro e minto" torna-se motivo de zombaria, mais cedo ou mais tarde. E não só zombaria: quem gosta de tocar as coisas com a barriga pode provocar mágoas, trabalhos mal feitos, desconfiança, ódio, inimizades. Simplesmente pelo fato de não controlar os limites, de não saber contar com a realidade, de não ser transparente consigo mesmo e com os outros.

O título desta crônica poderia bem ser "transparência" ou "sinceridade". Cumprir bem os deveres e ações implica, antes de tudo, exercer estas virtudes. Quem luta por cumpri-las não tapa o sol com a peneira, e sabe colocar em tábula rasa quais as condições para que as diversas atuações saiam da maneira que têm de sair.

Começa Setembro, meus caros. Que tal um "pente-fino", para saber aonde estão os nossos "cumpro e mintos", e ou esmagá-los, ou transformá-los em legítimos cumprimentos? Esteja certo disso: ao ser realista contra os "cumpro e mintos", mesmo que tomando atitudes drásticas (tal como é a vacina, para combater a doença), estamos evitando a nossa enganação, e a dos que estão à nossa volta também. Males totalmente desnecessários, certo?

Defendamos, pois, a coerência! Do contrário, seremos muito bem vindos ao time dos piores falsários e charlatões que existem na face da Terra: promessas bonitas, porém, vazias...

Xô, "cumpro e minto"!!!

São Paulo, 07/09/2008. W.E.M.

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