No mundo atual, falar de perdão é algo um tanto meloso, chato, coisa de fracos. Porém vou agora nadar contra essa corrente, e levantar a bola de uma atitude de qualquer homem que tenha um pouco de caráter: perdoar.
Mas, mais que isso, o verbo perdoar não deve vir desacompanhado de outros verbos, para que seja um perdão legitimamente humano: calar, esquecer, sorrir e recomeçar.
Num certo dia, ao encontrar um amigo meu, não pude deixar de perguntar por um casal de namorados amigo nosso que não via há algum tempo. Fiquei surpreso ao saber que haviam se separado, e mais que isso: brigado a ponto de sequer se falarem.
Aqui, nesta rápida anedota que a vida trouxe, temos um exemplo do que pode acontecer quando não colocamos em prática o perdão: uma relação qualquer, independentemente dos momentos bons, pode desmoronar sem deixar vestígio. Os momentos bons citados sequer são lembrados, e o pensamento para com a pessoa fica encoberto pelo rancor e murmurações. A pessoa passa a não prestar, e ser a última com quem se quer topar no caminho.
Aí entra o papel do perdão: o ato de perdoar é capaz de evitar todo o desgaste que coloquei nas linhas acima. É colocar a amizade e a consideração com a pessoa que falhou (se falhou) em primeiro lugar, e praticar o famoso 70x7 vezes de perdão que Cristo falou para que fizéssemos diante da ofensa ou falha.
Porém não basta o perdão seco, com despeito. O ato de perdoar sincero nunca é isolado. Ele vem acompanhado de outras atitudes.
A primeira delas é calar. Quem perdoa de fato, ao invés de murmurar sobre a pessoa soltando cobras e lagartos a respeito de seus defeitos, silencia e não ataca com covardes palavras.
Depois vem o esquecer: quem perdoa, procura esquecer o agravo contra a pessoa ao máximo possível. Isso é variável com os diversos temperamentos, mas só o fato de lutar contra o rancor é meritório.
Em terceiro, vem o sorrir. Uma cara fechada demonstra rancor e chateação com a situação. Nada como um sorriso pra quebrar o gelo.
E por fim o recomeçar: o que passou, passou. Hora de tratar a pessoa "acusada" com a mesma naturalidade de antes da mancada, como se nada houvesse acontecido.
Parece fácil seguir este "manual" do perdão. Mas não é, tenha certeza. O homem foi definido na Antiguidade como "um ser que esquece"; entretanto em algumas coisas, principalmente as que deixam seu orgulho ferido, ele não esquece tão cedo. É o que chamamos de "primo primi", isto é, a primeira reação diante da pisada na bola pra conosco. Ou você acha que receberíamos ela com um largo sorriso? É preciso alguns minutos, horas... dias, pra esse "primo primi" passar e cair nossa ficha do perdão.
Se hoje temos um elevado número de divórcios, as brigas são freqüentes e os rancores contra alguém são cantados em verso e prosa pelas celebridades da mídia, é porque essa atitude tão humana de perdoar (eu diria divina, pois quando perdoamos imitamos a Deus) tá mal cotada. Se você não quer fazer parte desse terrível time, ou sente que está fazendo jus a uma vaga de titular nesse time, comece agora a mudar a situação. Como? Perdoando de coração essa pessoa, pensando nos momentos agradáveis que vocês tenham compartilhado de alguma forma.
Esteja certo: um só desses momentos é maior que todos os motivos para rancor juntos e suficiente motivo para o devido e grandioso ato de calar, sorrir, esquecer, recomeçar... perdoar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário