sábado, 18 de agosto de 2012

Crônica - Ano V - Nº 187 - "Um sonho de família"


É dureza ficar um tempão sem escrever crônicas... mas eu não desisto! Deu pra, nesse mês de "folga" das crônicas reunir novas ideias e temas para as quinzenas facebookianas!

E essa crônica é escrita num período onde, pelas paróquias do Brasil, é feita a "Semana Nacional da Família". Uma semana onde os cristãos católicos repensam sobre seus valores familiares: virtudes a adquirir/manter, vícios a extirpar, educação dos filhos, valorização do matrimônio e muito mais.

Quero levantar, nesse escrito, a bandeira da família. Sou um cara família: tenho duas famílias (Evaristo e Mattos) cujos valores foram alicerce fundamental para o que tenho e sou hoje. São famílias numerosas, com vários tios, primos, netos... até pessoas que podem não ser de sangue, mas são Evaristo ou Mattos de coração. Famílias que torcem junto, que te surpreendem no dia do aniversário, que compartilha sua dor, que te aconchega e lhe dá os valores fundamentais para encarar a estrada terrena. Você, leitor: imagina-se sem a família que você tem?

Entretanto, a família anda fora de moda, com muitos louquinhos para lhe "queimar o filme". Estamos em uma época onde a auto-suficiência ameaça a constituição familiar. Li em uma reportagem hoje que, em países como Suécia 60% da população vive sozinha em uma casa (no Brasil já são 7 milhões de solitários). Muitos sem familiares próximos, praticamente "condenando" essa família à extinção. Falar do sonho de construir uma família hoje chega a chocar ou surpreender as pessoas, que chegam a ver esse sonho mais como um "empecilho" para projetos pessoais.

Ou, pior ainda, os valores familiares parecem se extinguir. Casamentos de fachada ou com "tempo de duração predeterminado", que não privilegiam nem veem como um sonho ter filhos (na verdade, muitos chegam a ver isso como um pesadelo). Famílias rachadas, disputando heranças de maneira sovina; lares onde a paz, a paciência e perdão, o carinho parecem não encontrar refúgio, sendo substituídos pela traição, ganância, ódio e medo: tudo isso que foi citado com certeza você já deve ter ouvido falar, e com maior frequência, nesses últimos tempos. Hoje, é fato: ter ou sonhar com uma família é estar disposto a chocar e ir contra uma ditadura de individualismo e/ou medo. O medo de se comprometer ou estragar seus planos hoje faz com que famílias que poderiam tomar corpo... sequer cheguem a existir.

Para os que apostam firme na instituição família, chegaram tempos de se remar contra a corrente, de fazer diferente do que a onda individualista apregoa. Em nome do carinho e educação de berço, da educação do lar, do crescimento como homem e mulher ao ter esse contato mais íntimo com outros seres humanos que a família proporciona. O ser humano, em sua natureza, possui um quid altruísta, de solidariedade e parceria com seu vizinho, que precisa ser alimentado em nome de sua própria felicidade. Quando nos fechamos no casulo sem deixar com que outros entrem (principalmente se temos vocação familiar) ficamos naturalmente tristes, com vontade de ter feito mais e aquela sensação de incompleto na alma. E a família é justamente o berço desse altruísmo: faz com que, desde pequenos, tenhamos vontade de trabalhar em parceria, em nome de uma Felicidade inexplicável nossa, e dos outros.

Todos temos uma vocação. Alguns, para servirem aos seus mas sem construir família de sangue, mas de coração; outros, para realmente construírem uma família, no seio do lar. Mas ambos, com o altruísmo citado que gerará de diferentes (e ao mesmo tempo semelhantes) formas, novas vidas e histórias.

Um viva às famílias! As de ontem, as de agora e as futuras. Como, lá na frente, a família que quero construir, se Deus assim querer. ;)

São Paulo, 18/08/2012. W.E.M.

4 comentários:

RI@L disse...

Sábias palavras meu caro Wanderlei.
Na família encontramos todo o apoio necessário para seguir caminhando.
O que seria de mim sem minha família? Acredito que nem metade do que sou hj.
Abraço.
Felipe Rial

Felipe Cabañas da Silva disse...

A instituição familiar mudou. As sociedades se transformaram. Se esse "resgate da família" que você propõe é pela família tradicional, papai provedor, mamãe dona de casa e uma prole enorme, talvez você não esteja compreendendo as transformações contemporâneas. O fato de muitas pessoas viverem sozinhas não significa que sejam egoístas/individualistas, mas que a mentalidade contemporânea admite que é melhor ser feliz sozinho do que infeliz a dois, algo impensável pelos preceitos rígidos da família tradicional, às vezes tão desestruturada por dentro quanto falsamente perfeita por fora. Além do mais, todo esse discurso pelo "resgate da família" sempre tem como pano de fundo a velha mentalidade conservadora que desconsidera completamente a possibilidade de formação de outras formas de família para além da família tradicional heterossexual. É necessário "repensar a família", e não "resgatar a família" nos moldes do passado. A família contemporânea é democrática, não rígida. É inclusiva, não exclusiva. O amor, o companheirismo, a compreensão, a harmonia e a responsabilidade com as crianças são possíveis em formas diversificadas de união e compromisso. Isso não é nenhum "revolucionário psicótico" quem diz, é Anthony Giddens, que de revolucionário não tem nada.

Prof. Wanderlei Evaristo de Mattos disse...

Opa, valeu, Rial! Realmente, é difícil pensar no que somos sem nossas famílias,o que elas nos passaram, desde os valores até o time de futebol, hehehehe!

Felipe: Papai provedor, mãe dona de casa, "American way of life"? Não, não é isso que proponho resgatar, mesmo porque num mundo globalizado e onde as mulheres estão ganhando seu espaço não só no mercado de trabalho mas em outros campos isso hoje é impensável. O que proponho resgatar seria a valorização da instituição família, que defendo o repensar e resgatar. Essa história de "é melhor ser feliz sozinho que infeliz a dois" demonstra bem o descrédito, o receio em que hoje se tem para com a instituição familiar, onde já se aposta na derrota antes de começar o jogo: muitos entram no casamento com uma data de validade, sabendo que cedo ou tarde vai acabar, ou sequer entram no casamento (já ouvi histórias de juntar com outro com cada um em sua casa, vivendo sozinho). Não consigo deixar de ver nem que seja uma ponta de individualismo ao se adotar essa posição: afinal, ela feriria os MEUS sonhos, os MEUS objetivos, os MEUS estilos de vida (dizer o pronome possessivo "meu" é a bola da vez). Além disso, trabalho diariamente com crianças cujo amparo familiar é bastante comprometido: famílias indiferentes à situação escolar e pessoal delas, falta de apoio em seus projetos e sonhos, ou mesmo até violência. Praticamente caminham sozinhas em suas vidas, segurando verdadeiros rojões, por conta de pais e mães que abandonaram sua criação, em troca de uma balada ou do caso extraconjugal, como já pude ouvir. Esse acompanhamento familiar "tradicional" é o que também defendo. Sobre a questão da família contemporânea diversificada revolucionária, ela está aí, ganhando seus direitos e espaço: agora, só o tempo poderá dizer se ela se mostrará um modelo que funcionou. Em todo caso, prefiro jogar hoje minhas fichas (e isso não é preconceito, é opção, tal qual faz quem aposta no modelo contemporâneo o faz com toda liberdade) num modelo que ao ser bem vivido e valorizado funciona (caso você negue isso, pense em sua família e em como ela colaborou para sua formação como homem em seus 29 anos de estrada), por mais "tradicional" e "conservador" que seja, que vejo diariamente em minha família, na família de amigos e nas famílias com as quais trabalho: no fundo, hoje apostar nesse modelo é que soa radical e revolucionário, pois vai na contramão dessa tal contemporaneidade que, queiramos ou não, ainda é uma incógnita mas que já deixa seus cartões de visita: o aumento dos depressivos e suicidas, dos conflitos mundiais e competitividade a todo custo, do egocentrismo, do isolamento social, tão visíveis em cada esquina de nossa cidade.

Unknown disse...

Você descreveu exatamente o que acontece hoje em dia, as vezes acho q estou nadando contra a corrente, onde a familia não é mais respeitada e muitos nem as quer.