segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crônica - Ano V - Nº 188 - "Seja você"


Confesso a você, amigo leitor: não irei mais prometer crônicas par ali, ou daqui a pouco, ou daqui a tantos dias. É melhor, tal como afirmei recentemente a alguns amigos, que ela flua naturalmente, tal qual surge a inspiração para a poesia. É até melhor assim, pois as palavras surgem ao natural, para mais uma crônica!

E por falar em "ao natural", hoje gostaria de falar justamente sobre essa questão. Afinal, nos dias de hoje é cada vez mais frequente encontrarmos o ecletismo em todas as questões. Fazer média com as outras pessoas, ficando em cima do muro, acendendo velas a São Miguel e ao diabo, como diz o ditado, mesmo que isso custe a personalidade.

Uma anedota famosa de que lembro é a do homem, da criança e do burro. O homem ia caminhando com seu filho, e guiando com uma corda um jumentinho. Ao cruzar com uma senhora, essa lhe disse: "Puxa, homem: seja pai! Coloque seu filho em cima do burrinho, e prossiga! Você tem burro de carga para quê?". Assim fez o homem. A seguir, outra senhora solta o verbo: "Que criança sem coração! O pai cansado de trabalhar, e ela vai folgada no lombo do burro!". Assim, pai e filho trocam de lugar. Um velhinho, ao cruzar o caminho, solta: "Pai irresponsável! Põe a criança para andar enquanto fica aí, folgado, sobre o burro!". Então, ambos montam sobre o burro. Até cruzar uma senhora: " É de cortar o coração! Ambos aí, em cima do burro, cansando o animal"... E a história começa outra vez!

Será que vale a pena tentar agradar a todos? Correr atrás por mudar de opinião, de time, de credo, mal ouça uma crítica ou posição contrária?

Não, não vale a pena. Pois aí matamos nossa característica marcante: a personalidade.

Um dos fascínios que a raça humana ainda sugere é essa variedade de personalidades. Uma mais calma, outra mais arisca e ácida; um discreto, outro extrovertido; um que curte pôr seus santos do dia e músicas cafonas, outro que curte postar suas fotos de banheiro e suas músicas clássicas. É de dar asco pensar numa humanidade padronizada,com pouca variedade de gênios e jeitos de ser. Se esses jeitos de ser ou gênios são compatíveis ou fazem obras boas, é outro papo. Mas para agora, é importante o respeito a essa variedade de comportamentos, e a consciência de que devemos saber que elas existem. E como existem!

Um dos passos para garantir nossa eficácia é ser quem devemos ser: nós mesmos. Isso não é fácil: muitas vezes, não sabemos quem nós somos, ou então renegamos o que somos, a nossa identidade, para não ficarmos mal. Ficamos "mornos", sem ser contundentes e passando por essa vida de maneira apática, pouco somatória aos outros e a nós mesmos. E, para conseguirmos o que queremos, só faltava aquela dose de ação, "presença", como se diz aqui na quebrada.

Dizer o que está certo ou o que está errado em nossas ações (fugindo do seco maniqueísmo) começa quando  primeiramente nós mesmos somos o que somos, com transparência e sem médias. Quando agimos e nos comportamos com o coração, sendo autênticos, a missão de se buscar a verdade fica muito mais facilitada. Não podemos ser pessoas que se deixam levar pelo mimetismo, por querer agradar aos demais ou para ser uma caricatura de quem poderíamos ser, na realidade. Aliás, pensemos: não é verdade que, quando vemos uma pessoa mimetista  soa esquisito, chato, vulgar? 

E, se não agradarmos, se despertarmos críticas ou calúnias com nossas ações, sem estresse, pois é natural. Uma pessoa que age e deixa rastro naturalmente marca presença e incomoda, e devido à pluralidade de comportamentos naturalmente vai chocar. E é bom que choque, que saia do cômodo canto morno. Revoluções e levantes são feitos graças a essas pessoas, que lutam com sua autenticidade como arma e que fazem ouvidos moucos aos que lhe criticam por criticar ou para amoldá-los em seus gostos, numa temível tentativa de padronização. Bora agir e ser quem devemos ser, e que gostem da gente também de acordo com o que somos e pensamos, tal qual devemos fazer para com nosso próximo: curti-los mesmo que seus pensamentos sejam divergentes aos nossos. Que bom que seja assim: ótimo argumento para sentarmos em uma mesa de bar e discutirmos com civilidade.

Não sejamos mornos, nem mimetistas. Sejamos quem devemos ser, com encanto próprio, caráter próprio, ideias próprias. Esses chamam muito mais a atenção e são mais atraentes com suas "cores vivas" que o apagado tom de cinza.

São Paulo, 17/09/2012. W.E.M.

Nenhum comentário: