sexta-feira, 18 de maio de 2012

Crônica - Ano V - Nº 183 - "Encruzilhadas"


Uma das peças que a vida nos gosta de pregar, ao longo de nossas passadas por ela, são as "encruzilhadas". Que atire a primeira pedra quem nunca topou com uma! 

Certo amigo, em uma conversa de bar pelos lados de Pinheiros, comentou sobre a encruzilhada que estava com seu emprego: recebeu uma proposta tentadora de uma grande empresa. Porém na sua atual empresa ele tinha uma boa qualidade de vida, estabilidade, sossego por um salário menor, mas com poucos desafios. Já o outro trabalho, rigoroso, pagaria muito bem mas o sugaria até o último fim de cabelo. Além disso, ele teria desafios nesse novo trabalho.

Um aluno da escola não sabia se queria engenharia ou arquitetura. Aquela mãe de família não sabia se vestia verde ou azul no casamento de sua sobrinha. O senhor respeitável não sabia se trocava o carro ou ficava com o seu velhinho. Todos nós podemos contar uma história de encruzilhadas, não?

E a dúvida que fica para nós, é: como tomar a decisão certa? Como saber se fizemos uma boa escolha, que não trocamos certos por duvidosos? Como fugir dos temidos "e se" ou o "eu não te avisei?", que podem surgir lá na frente.

O primeiro passo é: refletir. Pensar muito, rezar muito, não ter medo de pedir ajuda aos Céus, de colocar a cachola pra funcionar, de ser racional. Ações impensadas, essas sim, podem causar danos irreversíveis.

O segundo passo é: não ter medo de desabafar. Falar. O pior inimigo de nossas decisões é o chamado "demônio mudo", presente na falta de sinceridade com os outros e consigo próprio, na hora de manifestar o que está acontecendo ou o que se quer. O demônio mudo se manifesta também quando queremos resolver as coisas sozinho, sem contar com as pessoas queridas, com aquele amigo (a) que pode nos escutar e dar o conselho certeiro que precisávamos. Esse demônio mudo também é muito manifesto naquelas pessoas que tem um problema pessoal ou de saúde, mas que por uma auto-suficiência inexplicável, preferem se fechar em sua redoma a buscar soluções. Um perigo para si próprias: não à toa, aumentam os casos de suicídios, depressões, tristezas, mau humor, ódio, isolamento, solidão.

Por fim, o terceiro e mais doloroso passo: agir. Depois de pensar, falar, refletir com Deus, com os outros, consigo próprio, escolher uma das estradas e... zás: arriscar. Talvez só lá em Cima veremos que, para a nossa vida valer a pena, foi necessário correr riscos, jogar alto, apostar. 

Uma vida onde tudo veio de mão beijada, sem luta, com cinco a zero no placar corre o risco de perder o sabor da conquista, do suar sangue e lágrimas para se obter o que quer. Vitórias históricas jamais foram fáceis: talvez tenha sido necessário virar o placar para 4x3, depois de estar perdendo por 3x0, ou então com 10 guerreiros vencer 100. Não sabemos o que nos espera: a cada dia a vida nos traz momentos, eventos, pessoas que mudam nossa história. Mas o fundamental: não termos medo de arriscar, de sofrer arranhões eventuais que a vida pode nos dar. Se não vierem, ótimo; se vierem, aprendizado, no mínimo... mas ninguém jamais poderá jogar em tua cara que você não arriscou, não escolheu um caminho. Sim, você venceu! Pois, com reta intenção, escolheu de peito aberto esse caminho, e não olhou para trás, caminho que muitos fazem: ao invés de escolher a encruzilhada, tomam a covarde opção de voltar para trás, fugir do cruzamento. Opção fácil, mas inerte, que não dará em nada, só na tristeza do re-início do caminho. Desperdício para quem poderia querer mais.

Portanto, quando vierem as encruzilhadas da vida, não as temamos. Não caminhemos para trás: tenhamos a ousadia de jogar as fichas e viver a vida, depois da reflexão necessária com quem é necessário, no momento necessário. A pior decisão na encruzilhada é só uma: a da omissão. Essa, sim, cobra um alto preço.

São Paulo, 17/05/2012. W.E.M.

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