terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Crônica - Ano IV - Nº 149 - "A cordilheira"

As últimas semanas foram realmente de assustar: textos daqui, compromissos acolá, escola ali, faculdade lá. Alguns até dizem: normal para um final de ano, mas que fica uma sensação de que dava pra ter planejado melhor esse fim de ano, ah fica, hehe.

Não estou escrevendo aqui pra chorar as pitangas, mas sim para escrever baseado numa comparação que fiz ao topar com esse monte de compromissos a resolver. Me senti diante de uma cordilheira, enorme, maior que a dos Andes, chamando para ser escalada com aquela volúpia no olhar. E eu, desafiado por ela, a cordilheira dos compromissos, desafios, novos passos. Todos nós (você, também) temos uma cordilheira diante de nós, não é verdade?

Podemos encarar essa cordilheira com dois tipos de olhar: o primeiro seria um olhar amedrontado, abatido, subindo com receios de cair do alto da montanha. E de tanto pavor, esse cidadão acaba por cair, mesmo. Lembro de certa reportagem que contava sobre "profissões-perigo", onde o repórter perguntou a um técnico daquelas antenas gigantes que ficam no alto da Avenida Paulista como fazer para não ter medo da altura. E o técnico, um senhorzinho de 50 e poucos anos, disse: "É só ser natural, não ficar achando que vai cair, olhando pra baixo". Assim seria o amedrontado diante da cordilheira dos compromissos: de tanto medo, já se borrou nas calças.

Já o outro tipo de pessoa não olha a cordilheira dos compromissos de baixo pra cima; pelo contrário. Um olhar decidido, brioso, daqueles que sabem bem o que quer, e dizem sem pestanejar para a montanha, enquanto caminham na direção da mesma: "vou superá-la". Uma vez li sobre certo coronel que foi visitar os combatentes de um terrível conflito, num hospital improvisado no front. Lá ele foi cumprimentando um a um, elogiando seus homens feridos pela bravura. Até que encontrou um rapaz chorando em uma das alas. E ao conversar com o rapaz, soube que o mesmo chorava por "medinho", saudades melosas de casa, e pior: que tinha desertado no último combate. O coronel, sem pestanejar, deu-lhe um "safanão" e lhe disse: "que vergonha, rapaz. Tão jovem, e tão fraco. Está dispensado: não preciso de frangotes em meu exército".

Desertar de nossas cordilheiras parece ser a solução mais fácil, porém é a que se mostra também a mais covarde. O mundo de hoje não precisa de "bundas-moles", que não saibam encarar os problemas de frente; não à toa, a Engenharia é considerada por uns como um dos principais exemplos de profissão de sucesso, pois pressupõe-se que os engenheiros têm o dom de resolver problemas, sem deserções. Estamos convocados a "bancar os engenheiros", indo pra cima das adversidades, do cansaço, das ladeiras e outras coisas mais que servem de pedra no sapato. E isso tudo não é fácil, pois o ser humano possui em essência o primo primi (a primeira tendência) do cômodo e tranquilo. Porém, a partir do momento em que esse mesmo ser humano passa a ir contra esse primo primi , não há cordilheira que segure a vontade de vencer do homem, que irá mandar um sonoro "dane-se" para os desafios, encarando os que vier com raça e dedicação.

Nesse Dezembro, tão marcado também pela grande demanda de finalização de tarefas e pendências do ano todo, encaremos a cordilheira com "sangue nos zóio", como diz a galera aqui da quebrada de Pedreira City. Dessa forma a subiremos com gás e alegria e no final, como tudo que é mais custoso, teremos no alto dela uma paisagem belíssima da sensação de dever cumprido. E o que antes não queríamos subir passa a ser uma das atividades que mais gostamos, tal como os alpinistas "profiças". Vamos subir?

São Paulo, 30/11/2010. W.E.M.

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