Não estou escrevendo aqui pra chorar as pitangas, mas sim para escrever baseado numa comparação que fiz ao topar com esse monte de compromissos a resolver. Me senti diante de uma cordilheira, enorme, maior que a dos Andes, chamando para ser escalada com aquela volúpia no olhar. E eu, desafiado por ela, a cordilheira dos compromissos, desafios, novos passos. Todos nós (você, também) temos uma cordilheira diante de nós, não é verdade?
Podemos encarar essa cordilheira com dois tipos de olhar: o primeiro seria um olhar amedrontado, abatido, subindo com receios de cair do alto da montanha. E de tanto pavor, esse cidadão acaba por cair, mesmo. Lembro de certa reportagem que contava sobre "profissões-perigo", onde o repórter perguntou a um técnico daquelas antenas gigantes que ficam no alto da Avenida Paulista como fazer para não ter medo da altura. E o técnico, um senhorzinho de 50 e poucos anos, disse: "É só ser natural, não ficar achando que vai cair, olhando pra baixo". Assim seria o amedrontado diante da cordilheira dos compromissos: de tanto medo, já se borrou nas calças.
Já o outro tipo de pessoa não olha a cordilheira dos compromissos de baixo pra cima; pelo contrário. Um olhar decidido, brioso, daqueles que sabem bem o que quer, e dizem sem pestanejar para a montanha, enquanto caminham na direção da mesma: "vou superá-la". Uma vez li sobre certo coronel que foi visitar os combatentes de um terrível conflito, num hospital improvisado no front. Lá ele foi cumprimentando um a um, elogiando seus homens feridos pela bravura. Até que encontrou um rapaz chorando em uma das alas. E ao conversar com o rapaz, soube que o mesmo chorava por "medinho", saudades melosas de casa, e pior: que tinha desertado no último combate. O coronel, sem pestanejar, deu-lhe um "safanão" e lhe disse: "que vergonha, rapaz. Tão jovem, e tão fraco. Está dispensado: não preciso de frangotes em meu exército".
Desertar de nossas cordilheiras parece ser a solução mais fácil, porém é a que se mostra também a mais covarde. O mundo de hoje não precisa de "bundas-moles", que não saibam encarar os problemas de frente; não à toa, a Engenharia é considerada por uns como um dos principais exemplos de profissão de sucesso, pois pressupõe-se que os engenheiros têm o dom de resolver problemas, sem deserções. Estamos convocados a "bancar os engenheiros", indo pra cima das adversidades, do cansaço, das ladeiras e outras coisas mais que servem de pedra no sapato. E isso tudo não é fácil, pois o ser humano possui em essência o primo primi (a primeira tendência) do cômodo e tranquilo. Porém, a partir do momento em que esse mesmo ser humano passa a ir contra esse primo primi , não há cordilheira que segure a vontade de vencer do homem, que irá mandar um sonoro "dane-se" para os desafios, encarando os que vier com raça e dedicação.
Nesse Dezembro, tão marcado também pela grande demanda de finalização de tarefas e pendências do ano todo, encaremos a cordilheira com "sangue nos zóio", como diz a galera aqui da quebrada de Pedreira City. Dessa forma a subiremos com gás e alegria e no final, como tudo que é mais custoso, teremos no alto dela uma paisagem belíssima da sensação de dever cumprido. E o que antes não queríamos subir passa a ser uma das atividades que mais gostamos, tal como os alpinistas "profiças". Vamos subir?
São Paulo, 30/11/2010. W.E.M.
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