quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Crônica - Ano III - Nº 142 - "Calúnia x 5 verbos da paz"

Certo dia, lendo uma notícia de jornal, vi a história de um político que não se dava bem com outro colega de política: era subir ao palanque, e eram feitas caras e bocas, como se estivesse tudo certo; porém eram os dois se separarem, e o ataque de calúnias desleais pelas costas se desfigurava.

A brincadeira que é feita da "orelha coçando", em sinal de que alguém está falando mal de nós, é cada vez mais comum. Numa roda de conversa, no trabalho, ao tomar um ônibus, podemos ser vítimas dessa "orelha coçando"... ou o que é pior, deixar a orelha dos outros coçando. Caluniar é algo corriqueiro, e ao toparmos com situações onde parece claro que a picaretagem, as parcerias duvidosas e a rasteira só trazem compensações (né, certo clube centenário?), parece só um detalhe caluniar, entrar para a rede de intrigas e menriras. O que fazer, então?

Em um livrinho sobre um famoso santo da Igreja do qual sou devoto, São Josemaria Escrivá, vi um certo "causo" que mostra um santo remédio para não cairmos no conto da calúnia. Durante a década de 1940, período no qual sofreu perseguições pesadíssimas, ele listou cinco verbos para combater a murmuração e a calúnia que seus defensores poderiam seguir. Para surpresa de todos, não era nenhum verbo odioso. Cinco palavras mágicas: calar, perdoar, rezar, trabalhar, sorrir. Cinco verbos que nunca mais me esqueci, tamanha grandeza que escondem. Podemos ficar espantados: imagina só, diante de palavras violentas contra nós, respondermos com essa maneira "boba", "covarde". Explica isso aí...

Perdoar, eis o primeiro verbo. Pensemos: guardar rancor, ressentimento é uma solução adequada para cada vez que nos atacam? Diria que sim: perdoar é um ato de grandeza, que coloca na verdade o atacante em situação vexatória, ao se colocar na balança a atitude de cada um. Nunca funciona retribuir o mal com outro mal, só traz dor de cabeça e remorso. O ato de perdoar traz alívio, mostra que estamos de braços abertos, que olhamos nosso semelhante como ser humano sujeito a quedas e tropeços como nós.

Calar. É cada vez mais custoso controlarmos nossa língua, e hoje uma palavra que dissermos é sujeita a réplica, tréplica e essas coisas. Mas uma das atitudes que não nos faz perder a razão na causa é o silêncio. Certa vez, li sobre o caso de um homem acusado de assassinato que na verdade era inocente, porém a simples acusação já o tornava alvo de zombarias e xingamentos. Ele não respondeu. Até que, certo dia, encontrou-se uma prova cabal no local do crime que o inocentava de maneira definitiva. E os caluniadores literalmente foram reduzidos a pó: o silêncio venceu. De silenciar nunca teremos do que nos arrepender, já de falar, podemos perder a razão. Não à toa, os filmes policiais do EUA, ao mostrar a cena de uma prisão, costumam repetir "tem o direito de ficar em silêncio". Isso porque o silêncio é um grande aliado da justiça.

Rezar, trabalhar, sorrir: verbos de ação que mostram com o que uma pessoa de bem tem que estar preocupada, ao lidar com a murmuração ou a calúnia. Rezar: aquela paz de espírito que nos faz ver com outros olhos nossa posição de atacados e atacantes. De um momento de prosa com Deus, podemos ter a sacada de quanto que nosso atacante (ou nós mesmos) precisa de luzes pra acordar. Trabalhar: a concentração em nossos afazeres também nos enche de moral diante de qualquer ataque: a boiada muge e nós, quietinhos, trabalhamos e ganhamos caráter firme pra julgar qualquer situação. Sorrir: um santo remédio. transmite e nos traz paz, por mais que custe. Um sorriso sincero nos leva a tirar de letra qualquer ataque à nossa pessoa, priorizando o que realmente vale a pena nesta vida, sufocando o rancor com amor.

Ao invés de nos estressarmos com a calúnia, que tal respondê-la de maneira grandiosa, como homens politizados? Deixa que o relincho dito a deus-dará terá a resposta justa, composta pelos cinco verbos da paz citados nessa crônica.

São Paulo, 31/08/2010. W.E.M.

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