segunda-feira, 14 de junho de 2010

Crônica - Ano III - Nº 132 - Herói

32 seleções, 64 jogos que param o Brasil e o mundo. Copa! Tenho pena dos que não curtem futebol: devem estar vendo nesses dias sua visão de inferno, hehe!

Folheando recentemente um dos famosos álbuns de figurinhas (completo) de um amigo meu, vi a quantidade de jogadores: quantos ali não são candidatos a heróis. O gol do título, uma defesa milagrosa, um gol salvo em cima da linha... Façam suas escolhas para os heróis da Copa!

No Brasil, também é interessante perceber como os heróis de outras Copas são idolatrados, principalmente nesses dias de Copa: contam seus feitos, como fizeram aquele gol ou aquela jogada tão decisiva. Um átimo de segundo, e pronto: aquele sujeito vira herói, ídolo, mito.

Falamos tanto dos heróis da Copa... podemos falar de muitos outros heróis não-futebolísticos que aparecem nos telejornais. Um bombeiro que salva milhares de pessoas num incêndio, o homem que se joga num rio para salvar a mulher suicida, ou o médico que faz daquela cirurgia tão arriscada um sucesso. Sem falar nos heróis dos quadrinhos e seriados, para os quais não há impossíveis.

E nós aqui, pobres mortais: quer dizer que para ser um herói preciso ser jogador da Seleção, ou personagem de desenho, ou trabalhar numa "profissão-perigo"?

Nada disso. Há um heroísmo muito peculiar, o do homem "comum", cuja conduta talvez nos identificamos. Anônimos, discretos, sem mídia, capas de jornal ou no telejornal das 8, mas simplesmente heróis.

Vamos começar pelo amanhecer deste homem (mulheres, calma: falo homem no sentido da espécie, vocês também estão na descrição abaixo): cinco da manhã, gripado, 10º de temperatura... se benze e lá vai ele, sem fazer caso de si próprio, peitando a doença, sono e frio para cumprir com mais uma jornada. Problemas na condução (trânsito), chega ao seu lugar de trabalho compenetrado em fazer o melhor, esquecendo dos apuros e adversidades que teve de enfrentar desde a hora que levantou. Faz seu trabalho, atendendo solicitamente a todos, engolindo sapos, injustiças e mesmo broncas justas... mas lá vai ele, sem se abater. Vai lá para o almoço: uma marmita que vale por um banquete, ou então aquele self-service favorito. Volta ao trabalho, e a luta continua, até dar o horário de saída.

Saída somente do trabalho, pois outra jornada se põe à sua frente. Hora da faculdade, dos estudos, ou então de dar atenção para a filharada que espera ansiosamente por sua chegada. Nada o demove. Janta rápido e, cansado, se benze e termina mais um dia, esperando pelo próximo que irá começar daqui a umas cinco horas. E que venha o final de semana, os parentes, os amigos, a patroa. Podemos falar também dos valentes estudantes, desde o 1º ano até o término da faculdade correndo atrás, encarando as adversidades. Podemos falar das donas de casa e mães. Heróis e heroínas.

Heróis calados, que não esperam por medalhas, taças, capas de revista. Se contentam pelo salário, pelo ótimo desempenho na faculdade ou na escola, ou simplesmente por conseguirem dar sustento ou ajudar àqueles a quem ama. Heróis que cumprem seu dever, que perseveram até o fim, e por mais que hajam dificuldades, lágrimas, erros, não desistem: continuam a lutar quantas vezes for preciso. Cumprindo seu dever, fazendo o melhor a cada dia.

Nós, sem saber, talvez sejamos um desses heróis. Homens tão marcantes quanto os diversos heróis e patronos que o mundo já conheceu, mas que não sobem aos palcos e gramados. Uma hora o reconhecimento vem: parentes, amigos, vizinhos... herança que não se apaga, independentemente da função. Heroísmo que fica para os netos, para a posteridade.

Nunca nos coloquemos em posição subalterna aos astros da mídia e dos gramados: somos tão heroicos quanto os jogadores dessa Copa e das passadas, médicos, bombeiros e heróis de cinema, se cumprimos com nosso dever de cada dia, com valentia, sem frescuras. Pensemos no dia de hoje: fomos heróis?

Cumpramos esse dever nosso de cada dia com amor, e seremos heróis, para nenhum Super-Homem ou Pelé botar defeito.

São Paulo, 14/06/2010. W.E.M.

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