segunda-feira, 31 de maio de 2010

Crônica - Ano III - Nº 130 - Filiação

A semana que tem início é especialíssima. Feriado de Corpus Christi (poderia escrever uma crônica falando dessa maravilha que é o Corpo de Cristo na Eucaristia) e, no final da semana, uma data especial: o Jubileu de Ouro de meu pai: 50 anos. Com certeza vai ter festa, churrasco na companhia de uma cervejinha e amigos, como ele tanto gosta.

Ontem também foi uma festa importante na Igreja: Santíssima Trindade. Dia em que lembramos de Deus em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Mas acima de tudo isso: a figura do Pai-Deus nessas três pessoas, guardando cada um de seus filhos. É a chamada filiação divina: não somos "bagrinhos" de Deus, nem amigos, nem irmãos... acima disso: filhos!

Quero nessa crônica falar sobre essa característica que deveria marcar qualquer ser humano que se preze: a filiação, tanto para com nosso pai da terra como para com o Pai do Céu.

Uma pessoa que tem essa filiação no coração sabe-se sempre guardada, dia e noite. Por onde anda, no que quer que faça, sabe-se amparada e protegida por um pai, uma pessoa maior que não a deixará perecer. Lembro-me agora de um conto, onde certo grupo de navegantes foi pescar. De repente, o navio entrou no meio de uma tempestade, correndo o grave perigo de virar ou naufragar. A tripulação entrou em pânico, correndo de um lado para outro na embarcação. Até que em certo momento um dos tripulantes entrou numa cabine, e viu uma criança brincando, como se nada estivesse acontecendo. O tripulante, estarrecido, pergunta à criança: "O que está fazendo? Não está vendo que o navio está próximo de virar e afundar? Não está com medo?". A criança, calmamente, lhe respondeu: "Não vai acontecer nada, pois o capitão do navio é o meu pai".

O sentimento da criança do conto acima é que permeia a alma das pessoas que possuem essa filiação no coração, seja divina, seja humana. Não há borrasca, maré de azar, temporadas difíceis ou mesmo tragédias que façam essas pessoas perderem a serenidade, pois sabem-se acompanhadas de um braço forte, que não a deixará cair ou passar necessidade. Falemos, pois, da filiação divina: não há nada mais confortante no mundo que saber-se filhos de Deus. A frase de caminhão "Não sou dono do mundo, mas sou filho do Dono" é bastante acertada: a relação que devemos ter com Deus não é a de um chefe com o subalterno, e sim a de filho para com o Pai, que quando é preciso traz doces para o filho, ou se for preciso dá umas boas chineladas. Cristo, na parábola do filho pródigo, mostra bem qual a faceta de Deus Pai para com seus filhos: de braços abertos. Mesmo com o filho largando tudo e desprezando-o lá está Ele, esperando pelo filho, querendo dar-lhe a melhor roupa e fazer uma churrascada para comemorar a sua volta, dando um abraço aconchegante de perdão. Esse é Deus para conosco: um Pai que não nos abandona, que nos tira das enrascadas e sabe antes de nós mesmos o que nós precisamos. Resultado disso: paz, alegria, serenidade nas dificuldades, maturidade, e uma série de virtudes.

Agora, a filiação humana. Não fazem ideia de como é bom, maravilhoso ter pais, um pai que é nosso braço forte e porto seguro. Dá pena de ver filhos que abandonam e deixam esses pais a verem navios, desprezando tudo o que fizeram muitas vezes pela busca da independência ou por simples caprichos. Em alguns casos, o pai (ou mesmo pais) é ocasião de escândalo, seja por um tapa ou palavra indevida, uma conduta inadequada, um jeito de ser irritante. Mas faço valer as palavras que certo amigo meu me comentou, há algumas semanas: "apesar dos pesares, é o seu pai". Não há preço que pague a educação, o esforço diário por não deixar nada faltar, o carinho e cada momento junto: nada. Se hoje estou aqui, é graças a ele. Apesar de qualquer pesar, e se um dia deixasse de apostar nele, não poderia apostar em mais nada.

Eis a filiação. Saber-se filhos: sinônimo de paz. E com essa filiação, divina e humana, abraço meu paizão e digo: FELIZ 50 ANOS!!!

São Paulo, 31/05/2010. W.E.M.

Nenhum comentário: