segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Crônica - Ano III - Nº 115 - "Ousadia"

É lamentável que, no perfil pessoal do Orkut, no campo"o que me atrai" não exista a possibilidade de escolher a palavra ousadia. Uma virtude para a qual eu tiro o chapéu.

Semana passada foi lançado o IPad, uma espécie de prancheta virtual, com os maiores avanços que se possa imaginar na tecnologia. Outro time foi lá e contratou um jogador de renome. O que essas situações têm em comum? A ousadia, que nada mais é do que agir sem medo de arriscar-se.

Em conversa com um amigo meu essa semana, saiu o tema das pirâmides do Egito e das vigas gigantescas que cortam as serras da Via Anchieta. Obras monstruosas, inconcebíveis: ficamos imaginando como deve ter sido a reação dos leigos no assunto ao ver a planta de construção ou o projeto inicial dessas obras: uma risada estridente ou uma incredulidade. Mas as obras saíram, estão de pé, colossais, e tudo graças à ousadia dos responsáveis pela construção: eles foram lá, arregaçaram as mangas, suaram a camisa, trabalharam e puseram gente para trabalhar e foram construindo... até chegar no resultado final. Foram ousados, isto é, foram além do que estava na planta.

Mas a ousadia não é uma virtude somente aplicável na construção civil. Li certa vez que os principais times da Europa tem dívidas trilionárias, por arriscar o patrimônio em prol dos títulos do time. Nesta semana, muitos vestibulandos vão pular de alegria por ver seu nome na lista de aprovados da FUVEST: arriscaram os estudos na profissão escolhida, jogaram as fichas em seu futuro. Outra pessoa jogou suas fichas num num namoro ou casamento, num emprego novo, num investimento imobiliário. Arriscaram, eis a ousadia. As pessoas ousadas não ficam à mercê de limites como distâncias, dificuldades financeiras, doenças ou estados de espírito. Arriscam, põe a cara pra bater. Sabem das dificuldades, mas ao invés de baixar a cabeça e ficarem quietos, olham selvagemente nos olhos da dificuldade e a encaram, tal qual dois boxeadores frente a frente. Conta com os riscos, mas age ciente de que o retorno vai ser muito maior, tal qual os times europeus o fizeram, no caso narrado mais acima.

Difícil pensar num mundo que não tivesse sido construído por gente ousada. Olhando em volta, muitos dos inventos (inclusive esse computador) saiu de planos de homens ousados. Os arranha-céus, o sonho de voar ou atingir o pico mais alto... superação de limites. Tenho em casa uma prova viva de ousadia: meu pai e minha mãe. Por ousadia pura, foi lá meu pai e paquerou minha mãe, em 1981. Por ousadia pura, foram lá, noivaram e se casaram. Já pensou se não tivesse ousadia nessa receita? O humilde digitador dessa crônica (e essa crônica e as outras) sequer existiria. Olhe bem para seu dia e você verá que ele foi construído por milhares de atos de ousadia.

Claro que a ousadia verdadeira vem de mãos dadas com a prudência: ir à luta sem conhecer o terreno adversário é loucura, não ousadia. Também é claro que muita "gente ousada" foi responsável pela criação de artefatos daninhos para a humanidade, bem como modos de agir e pensar totalmente inconsequentes e indefensáveis. O próprio diabo é ousado: não tem medo de lançar armadilhas para o ser humano tropeçar. Entretanto, o homem de boa ousadia é experiente: mapeia os riscos, detecta e extirpa os males que podem porvir do ato de ousadia, e age. Como num jogo de truco, onde se um pede truco, outro pede três, outro seis, outro nove. Ousar é agir, mas nunca agir para promover um malefício ou de maneira insensata, sem pensar. Respectivamente isso não seria ousadia, mas sim crime e imprudência.

Você tem sonhos? Tem um desejo no fundo do coração? É um empreendimento que vai dar retorno? Vai lá, aja! Ouse. Não espere a banda passar, ou que um "pilantra" (na verdade um esperto, se pensarmos bem) te passe a perna e ponha a obra em ação antes de você. E se no projeto houver dificuldades, repita o título de certa comunidade que conheci essa semana: "é difícil, mas eu quero". Um título pra lá de ousado.

São Paulo, 01/02/2010. W.E.M.

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