segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Crônica - Ano II - Nº 96 - "Errar"

O verbo que dá o título para esta crônica causa arrepios a muitas pessoas (me incluo nessa lista). É curto e grosso: errar.

Se a sociedade avança a passos largos no âmbito tecnológico, podemos dizer que em contrapartida ela está cada vez mais retrógrada com a questão do erro. Criou-se um mundo de desculpas esfarrapadas, simplesmente para mascarar a conjugação de um simples verbo: o "eu errei". Vamos falar um pouco, então, do que significa esse tal erro que tanto apavora as mentes humanas.

Errar não se limita simplesmente a uma opinião equivocada. O mundo que cerca o erro é mais complexo que imaginamos. Este erro pode estar cercado ou não pela mentira, pela sinceridade, pela coragem ou pela falta de caráter, só pra falar de alguns "temperos" que cercam o mundo dos erros. Lendo um livro recentemente, vi uma declaração curiosa de um presidente norte-americano bem-sucedido falando que, "de todas as decisões que tinha tomado em seu mandato, acertou em apenas 60% delas". Em outro li a seguinte frase: "a pessoa mais correta e justa desse mundo cai, erra no mínimo sete vezes por dia". Complexo o erro, não?

O ato de errar está presente em nosso dia-a-dia. Quem não já teve seus acessos de mau-humor para o colega de trabalho ou de faculdade, ou então não se rendeu a um momento de preguiça? Ou então não passou da conta naquela festa da facul ou de aniversário, ou ainda não cumpriu bem com seus deveres profissionais? Não cabe aqui fazer uma lista mais extensa de erros: cada um tem seu "saco de areia" contendo seus erros cotidianos, alguns maiores, outros mais rasos.

Destaco aqui o principal erro, que causa atualmente os maiores prejuízos na sociedade atual, que é a falta de reconhecimento do erro. A pessoa que não para e diz: "putz, estou errado nessa atitude, nesse pensamento" comete um terrível dano para si mesma, e retroalimenta a cadeia do medo de errar que assola o mundo de hoje. Uma pessoa que não reconhece o erro, pra começo de conversa, alimenta o egocentrismo. Pra não perder a pose, "passa uma maquiagem" na conduta errada por meio de justificativas. Quem não se lembra da fábula da raposa e a videira? A raposa, ao passar pela vide, tenta de todas as formas alcançar os cachos que estão no alto dela? Pula, corre, e nada! Até que, despeitada, ela vai embora dizendo: "Bah, estão verdes!". Isso ao invés de reconhecer que ela não poderia alcançar os cachos de uvas por sua estatura. Por não ter admitido seu erro.

Hoje, se temos um mundo que não consegue acatar os próprios erros, é justamente por termos cada vez mais indivíduos que insistem em não dizer "eu errei". O resultado disso é que as pessoas que cercam este indivíduo, "acostumadas", acabam por aceitar e se conformar com o erro da pessoa. Logo, cria-se uma roda da indiferença onde um não está nem aí para o erro do outro, por simplesmente o erro ter sido jogado pra debaixo do tapete. Um salvo-conduto para o erro, pois ele por si só já não existe, pois foi sufocado pela desculpa.

Como vimos, todos erramos: a questão está em como encaramos o erro. Ele pode ser um aliado para nossa luta cotidiana: ao acordarmos pra mais um dia, mais um duelo contra nosso inimigo íntimo. Ou ainda: o erro pode colaborar para sermos mais sinceros, mais simples. Grandes passos e conquistas da humanidade se devem a pessoas que erraram muito, mas de tanto combater esses erros, de encará-los com simplicidade e sem pudores, chegaram ao acerto. Tudo isso não significa compactuar com o erro, mas sim admiti-lo e fazer uma luta franca para corrigi-lo, ao invés de escondê-lo debaixo do tapete e fingir que ele não existe.

Não deixemos o erro ser contaminado pelos vícios, pela mentira através do seco mascaramento. Admitamos nossos erros e nos ponhamos de pé para superá-los. Pois o mundo resolveria com mais facilidade seus problemas (e jogaria a briga de egos pra escanteio) se cada um de nós parasse e dissesse para si mesmo: "eu errei".

São Paulo, 21/09/2009. W.E.M.

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