quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Crônica - Ano II - Nº 94 - "Saudade x Tristeza"

Depois de mais de uma semana em Brasília devido ao XI SIMPURB, estou de volta à minha cidade querida, São Paulo, onde nasci e pretendo morrer (ainda bem que voltei na terça, pois senão pegaria uma chuva...).

Porém, na volta a Sampa pelas estradas do Centro-Oeste já batia nas veias a saudade dos dias em Brasília: as pessoas com que convivi e me hospedaram, os dias de evento e atrações da cidade, as semelhanças e diferenças da Capital federal com minha cidade, e por aí vai. Por isso quero falar nesta crônica sobre a questão da saudade. E como ela é antagônica à tristeza.

Lembro de uma Missa de Finados que assisti na tevê, há mais de dez anos. Ná época meu nível de catolicidade era baixinho, pois dá pra contar nos dedos quantas Missas dominicais assisti até 1999. Entretanto, aquela Missa televisionada me marcou, pois tinha o lema: "Saudade, sim. Tristeza, não".

Na homilia falou-se das diferenças entre a saudade e a tristeza: a primeira é benéfica, pois traz à baila a imagem da pessoa ou da lembrança querida, os bons momentos, a alegria, o exemplo e virtudes. Já a tristeza, diferente da saudade, é melancólica, negativa, fúnebre, que só serve pra trazer pensamentos ruins, agourentos.

Da mesma forma que para lembrar de um parente falecido é preciso diferenciar saudade de tristeza, para as coisas e lembranças boas é também necessária essa diferenciação. Uma pessoa saudosa não é choraminguenta, melosa: guarda com carinho os "melhores momentos" da partida, os pontos altos da viagem ou lembrança. Lembra até mesmo com bom humor dessa situação que passou e talvez não volte: basta ouvirmos uma história gostosa de nossos avós para ver o que é um saudável saudosismo. O vovô ou a vovó não ficam com lamúrias: pelo contrário, se divertem e se deliciam ao contar as aventuras ou descreverem uma pessoa que marcou aquela aventura passada.

Falemos um pouco agora da tristeza, em oposição à saudade. Uma visão triste de um episódio passado não alegra os outros, em primeiro lugar: já pensou se passássemos a contar com forte conotação de tristeza todos os episódios e lugares por onde passamos aos nossos amigos? Os lugares, situações, pessoas são lembrados pelos tristes como se fossem uma nuvem passageira e traiçoeira que não volta mais. Aliás, essas lembranças incomodam os tristes, pois estes não têm coragem de lembrar das boas lembranças que viveram durante essas situações. Em suma: o triste se despede de um lugar com queixume e desânimo; o saudosista, com alegria e um pote cheio de boas histórias.

A nossa vida é marcada por diversas situações de despedida. Quantas vezes tivemos de deixar um lugar em que passamos as férias, um ente querido temporária ou definitivamente, um trabalho ao qual nos apegamos, etc. É preciso saber lidar com essas despedidas que a vida nos traz. Uma pessoa com bom saudosismo no peito sabe que as despedidas são necessárias, como diz a frase de cabeçalho de meu Orkut, para o próximo reencontro. Se pararamos pra pensar, estamos sempre nos despedindo: da mãe ou do pai, pra ir para a faculdade; dos amigos de emprego, ao terminar uma jornada; ou do amigo, após uma visita-surpresa. Entretanto nos despedimos com a certeza do reencontro, nesses casos. Viver a vida é isso: despedidas e reencontros constantes. O ser humano não é um "fixo geográfico": ele está sempre interagindo com milhares de pessoas e situações, e para a reciclagem do trato com as mesmas se fazem necessárias as rápidas despedidas, para dali a um rápido momento acontecer o reencontro. É assim que ilustro Brasília: não com a tristeza da despedida dela e das pessoas que por lá conheci e convivi, mas com o saudável saudosismo de que logo logo reencontrarei a cidade e um por um dos que convivi

Nas despedidas da vida, xô tristeza! E ao mesmo tempo saudade, para reencontrarmos logo tudo que fez história em nossas vidas, tal como Brasília fez em minha vida. Até daqui a pouco, BSB!

São Paulo, 10/09/2009. W.E.M.

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