Meses atrás, conversando com uma amiga minha, esta me disse: "Há certos momentos que não existe melhor coisa a fazer do que refugiar-se em sua casa, ficar um pouco só. Isso faz a gente parar e pensar um pouco". Concordei com ela no ato, pois ali ela me falou sobre a "bendita solidão".
A "bendita solidão" talvez esteja com seu nome deturpado, pois possui como sinônimo o recolhimento. Ela nada mais é do que aquele momento em que você sente que é preciso "apertar os parafusos" consigo mesmo. Hora de desacelerar os pensamentos e concentrar-se. Ficar uns minutos em silêncio, e ouvir mais a consciência do que sair atropelando-a com pensamentos bagunçados.
Quem tem em mente o sentido do recolhimento (vamos parar por aqui de chamar de bendita solidão) sente o quão importante é esse para diversas atividades do dia-a-dia. Para o estudo e o trabalho: há momentos em que é necessário fechar-se para a tarefa sair. Cansamos de ver atendimentos médicos, aulas, julgamentos... Todos eles, para saírem direito, requerem o silêncio. Do contrário, a balbúrdia ou um ambiente que permita a desconcentração acabam com qualquer tentativa de pôr em ação essas tarefas. Experimente, se você tem dúvidas, conversar com uma pessoa querida com a televisão em volume alto, ou atender o telefone com música alta. Pode até sair a tarefa, mas não será da maneira ideal.
Recolher-se ajuda no encontro com Deus (tente rezar um pouco no meio do falatório). Neste Domingo, assistindo à Missa na Igreja do Calvário, em Pinheiros, um senhor atendeu seu telefone celular com voz alta no meio da Missa. Quebrou o clima de silêncio que permitia uma atenção especial em Deus. Infelizmente tantas pessoas já se acostumaram tanto com a zorra que simplesmente pararam de ir à igreja por ser um local "muito silencioso", como ouvi uma vez. Justamente quando o recolhimento ajudaria a concatenar melhor as ideias e nos deixaria mais concentrados em Deus (tanto que o Retiro que farei será em silêncio).
O recolhimento também é fundamental para pensarmos em determinado assunto, ouvir uma pessoa, assistir um evento ou algo na televisão... Poderíamos dar diversos exemplos onde a hora de ficar quieto é fundamental. Mas ficamos com este argumento: ele nos deixa mais concentrados nos objetivos a que nos dispomos.
Porém, ao mesmo tempo temos a pura e seca solidão. É aquela solidão que sente um gosto especial por ficar só, e é sinônimo de isolamento. Muitas pessoas nos dias atuais não aturam a companhia de outras, e preferem ficar dentro de sua bolha, sem amigos, companhia, sem ouvir ninguém além de si (muitos sofrem de solidão crônica, não saem da casca). Isso não é recolhimento, pois este é simplesmente um tempo em que você para e deixa entrar um silêncio que permite pensar e meditar, e assim ir aos entes queridos com força total. Uma pessoa solitária é triste, pois fica amargurado e amarrado para fazer suas coisas; já a pessoa recolhida para e pensa no que vai fazer e com quem vai encontrar, e é alegre, pois saberá tomara a atitude certa, tem tudo planejado e sabe separar a atividade da balbúrdia. Aliás, sabe a hora em que se pode ceder à balbúrdia com os amigos, numa roda de chopp, e quando não se pode ceder, no tempo de estudo, por exemplo.
Vale a pena ficar uns minutos a sós. Parar e meditar, parar e rezar, encontrar-se com a sua consciência. Escapar um pouco do boom de informações e correrias a que estamos expostos, e ir "apertar os parafusos".
É assim que descobrimos o atalho para o Onipotente e as boas ideias: recolher-se!
São Paulo, 12/07/2009. W.E.M.
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