segunda-feira, 29 de junho de 2009

Crônica - Ano II - Nº 84 - "3D"

Todos nós já tivemos uma experiência 3D, isto é, em terceira dimensão: um filme, a atração de um parque de diversões, um jogo de computador... Estamos na era da terceira dimensão, onde não basta mais acompanhar atrações somente com largura e altura: é necessária a profundidade, o que caracteriza a atração em 3D e deixa-a próxima do mundo real.

Tal como no mundo virtual, o homem também pode se observar (e ser observado) por três dimensões: por quanto ele possui, por como ele pensa ou pela forma que ele age.

Numa conversa com um amigo meu sobre os acontecimentos políticos ocorrentes na USP nas últimas semanas, chegamos a uma conclusão sobre o porquê de tantas manifestações, apesar da causa justa na maioria dos casos, não conseguir atingir seus objetivos: há um racha de ideias e mesmo entre aqueles que deveriam compor a manifestação. Ao invés de haver uma união em prol da causa, o que muitas vezes observamos é um joguete de posições políticas, quem levará mais vantagem. Se um pensa de forma diferente do outro, já se torna antagonista do mesmo... "O outro ganha mais? É diferente de mim.". "Credo, ele age assim! Tô fora!"... Enfim, uma discordância de objetivos que só levam ao naufrágio das mais positivas lutas.

Olhando a conversa acima, podemos rapidamente colocá-a em congruência com o tema desta crônica. Muitos, ao invés de juntarem as três dimensões citadas para formar um olhar verdadeiro sobre o homem e as situações que o cercam, preferiram rachar esse olhar para uma única dimensão: alguns olham somente para o que o outro possui (dinheiro, bens, emprego, família). Outros, para a maneira que o outro age (se ele vai a determinado lugar, se comporta-se de tal maneira). E outra leva, para como o outro pensa (se é de direita, se é de esquerda, se tem religião, se é sindicalista...).

O olhar verdadeiro sobre uma pessoa e sobre as situações que a cerca (sendo nós mesmos os primeiros a precisar deste olhar, para assim olharmos o outro) requer a união das três dimensões citadas. Quando uma delas é retirada, o olhar fica nebuloso, incompleto, "caolho". Passa-se rapidamente da compreensão e diálogo entre as ideias para a discussão limitada e ríspida em torno da dimensão incompleta (seria como olhar um ser humano, formado pelo esqueleto, órgãos e alma esquecendo-se de um desses componentes: já imaginaram querer descrever um homem sem um desses três elementos? Seria no mínimo esquisito). E tudo isso, só vai causar confusão, quando se faz necessária a união destes por uma causa justa: irão sair propostas absurdas, haverão disputas para ver quem é o líder... até chegarem na troca de grosserias e sopapos, como vira e mexe vemos nos telejornais.

O olhar 3D de um homem para si mesmo e para com outro, além de permitir o diálogo e o caminhar de ideias e ideais, também permite o aparecimento da 4ª dimensão: Deus, como se fosse o centro e o elo do triângulo destas três dimensões. Centrar o olhar sobre somente uma ou duas das dimensões impede que a 4ª e principal dimensão torne-se evidente. O resultado disso: dúvidas e ceticismos sobre as questões mais simples da vida acompanhando os desacordos já comentados. Perde-se a esperança e os sentimentos, até virar um verdadeiro androide, que fecha os olhos pra tudo e só cumpre o que está no comando de ação. Joga-se pela janela justamente Aquele que poderia dar o retoque ou a visão necessária para o ideal ser cumprido: anda-se às cegas.

Que tal acompanharmos a onda 3D e adotarmos a mesma para nossas vidas? Olharmo-nos pelas três dimensões citadas, sem deixar sobressair uma delas, para assim olhar os outros também em 3D e trazer à tona a 4ª e mais importante dimensão?

Dessa forma, veremos como o fenômeno 3D vem, na verdade, de longa data... Desde quando o homem tornou nobres objetivos em realidade.

São Paulo, 28/06/2009. W.E.M.

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