domingo, 1 de fevereiro de 2009

Crônica - Ano II - Nº 64 - "Crise & Dinheiro"

Hoje, 1° de Fevereiro, passou a vigorar o novo Salário Mínimo do Brasil: R$465,00. Uma cifra histórica, se lembramos que, em 1994, no início do Plano Real, esse salário era de R$64,79.

E ao mesmo tempo, uma palavra corriqueira neste ano de 2009 é crise. Ultimamente, essa palavra vem sendo protagonista de muitas entrevistas e explicações, seja porque falta grana no fim do mês, seja até mesmo pra justificar o atraso num encontro: "é culpa da crise". Crise econômica.

E o porquê de tanta importância dada a essa palavra? Porque ela mexe justamente com um dos pontos mais doloridos do ser humano: o bolso, onde está o dinheiro...
Dinheiro não é tudo, mas é necessário! Então, como passar bem nestes tempos difíceis? Como desvencilhar-se de preocupações financeiras? Como renegar a palavra crise?

Tem gente que pensa de maneira radical sobre o dinheiro. Acha que ele é coisa do Maligno, etc e tal. A estes, é bom refrescar a memória: lembra da frase de Cristo: "dai a César o que é de César"? Pois bem, o dinheiro não é nada maldito. É, conforme dito linhas acima, muito necessário. Para os negócios, para o sustento, para uma digna vida social ele é fundamental.

O problema está na confusão que muitos fazem. Transformam o dinheiro em fim, e não meio. Dane-se o tempo, dane-se os amigos, dane-se o resto: eu preciso de dinheiro, e a necessidade vira uma obsessão. E quando se tem esse dinheiro, ao invés de usá-lo com prudência, se usa de duas formas perigosas: ou de maneira avarenta (o famoso "pão-duro", que não abre a mão pra nada), ou de maneira esbanjadora (o gastador, que pega o salário e torra da maneira mais inadequada possível). Em todos esses casos se fez jus ao verso da música: "Dinheiro na mão é vendaval".

Se hoje fala-se em crise é devido a muitos utilizarem seu dinheiro sem medir conseqüências. E não adianta falar em "salários baixos": podemos topar com pessoas com receitas na casa do salário mínimo que vivem muito bem e realizam sonhos com essa quantia, e ao mesmo tempo pessoas com a mesma faixa de salário que vivem mal. Ou ainda, um professor que ganha cerca de R$1000,00 e sabe lidar com o dinheiro que cai na conta todo mês pode viver muito melhor que um engenheiro que ganha R$2000,00 e que torra logo essa grana em supérfluos ou joga-a para uma conta, para abrir só daqui a 70 anos, pra levar a grana pra dentro do caixão.

O que vai pesar na balança é a forma de uso do dinheiro. Quanto mais utilizarmos o dinheiro como fim e de maneira inescrupulosa, mais a palavra crise ganhará impulso em nosso imaginário e ações, já que mais adiante sentiremos as conseqüências dessa atitude. Equilibremos nossas contas, saibamos deixar as devidas reservas, pensemos antes de deixar um trabalho, ajamos com calma. E veremos que a crise que já tomou conta de tantos no mundo não tomará conta de nós.

Tenhamos também na cabeça que o dinheiro é meio para chegarmos a um determinado objetivo, e não fim, isto é, riqueza pra ser guardada embaixo da cama. Existe uma frase que li em meu livro de cabeceira: "gasta-se o que se deve ainda que se deva o que se gasta". O que ela quer dizer: que o dinheiro, quando se trata de gastos realmente necessários (uma consulta médica ou dentista, a escola do filho, os alimentos da casa) deve ser utilizado sem qualquer receio. O perigo está no uso do dinheiro em gastos banais (trocar de celular pela 15ª vez no ano, comprar aquele tênis de R$180,00, quando se tem outros cinco pares em casa, etc). A crise está tanto na pão-durice quanto no aburguesamento.

Portanto, com a grana que ganhamos, dá sim para escapar da nova onda do momento: a crise. O que temos que saber, nessa peça de teatro chamada crise, é onde vamos encaixar o protagonista chamado dinheiro. Pois ele é um protagonista bem chato, que vai te machucar se não for bem escalado nessa peça.

São Paulo, 01/02/2009. W.E.M.

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