O autor relata de forma certeira o comportamento dos indivíduos de nossa sociedade atual, fazendo uma comparação com o mito grego de Narciso. Lembrando rapidamente o mito: Narciso, a sumidade da beleza, apaixonou-se por si mesmo a tal ponto que, ao ver seu reflexo num lago, pulou em busca desse reflexo e se afogou no mesmo.
O pensamento atual de grande fatia da sociedade, segundo o autor, está repleto de “narcisos”. É a era do narcisismo, onde a busca descontrolada pelo eu, pelos mais ínfimos caprichos, se tornou comum. Vive-se do presente, somente o presente: planos futuros?!? Balela! “Comamos e bebamos que amanhã morreremos”. O que importa agora é atender esse insaciável e frívolo “eu”, o meu gosto. E o resto me desculpe, mas se não for de meu interesse, ficará em segundo plano (inclua-se neste resto Deus e os que me cercam). É a era do vazio, como diz o título da obra, pois se substituiu a realidade do concreto pelo quimérico abstrato; saem planos objetivos, entram devaneios subjetivos.
Amigos, eu também sou um sonhador. Eu tenho também um lado subjetivo, onde a imaginação corre solta e o impossível torna-se possível. Também tenho meu “eu”, minhas preocupações, hobbies, gostos, caprichos. Mas em tudo há um limite. Quando a chamada do “eu” traz consigo o risco de perder os mais elementares valores do ser humano, a fé em Deus, o tesouro da convivência com o próximo, etc, ele precisa ser brecado.
O coração, o “eu” é como um cão brabo sob o efeito de uma coleira: se a gente o deixa quietinho, não se aproxima bruscamente, ele não vai morder. Infelizmente, contrariando este fato, tem muitos que assumem uma posição masoquista, isto é, em vez de deixarem o cão brabo quieto, vão em direção dele pra tomar propositalmente a mordida. No caso, a mordida que esses muitos tomam é a mordida do bel-prazer, do momentâneo, daquilo que está desprendido de regras e limites por ser considerado ultrapassado. Essa mordida entorpece e ilude na hora, mas, com o decorrer dos anos, começa a mostrar os efeitos malignos. O pior inimigo de qualquer construção é a água que infiltra, só que ela não derruba a construção de cara: ela vai infiltrando, infiltrando, apodrecendo os alicerces, até que esse inesperadamente desaba, justamente quando todos davam a construção por sólida.
Meus caros, não sejamos mais um desses “narcisos”. Olhemos os que estão à nossa volta. Olhemos nossos valores, nossa fé (se você não a tem ou está jogando ela pra debaixo do tapete, me desculpe a sinceridade, mas você precisa amadurecer, pois está pensando pior que uma criança mimada de cinco anos). Lipovetsky, em seu texto, deu o sinal de alerta: não podemos ser mais um dos integrados com a era do vazio, trocando uma felicidade concreta de virtudes, lealdade, amizade, fé, esperança... pelo efêmero prazer de momento, ficares, indiferença, vícios, preguiças... nada. Não vale a pena trocar suas jóias preciosas por esses “ouros-de-tolo”, por mais atraentes que sejam esses últimos.
Caso você detecte seu caminhar rápido para a turma de “narcisos”, ainda é tempo de evitar seu salto mortal para o lago profundo, tal como o legítimo Narciso. Dome seu “eu”, e aprenda a olhar um pouquinho mais para os legítimos valores que a vida nos traz, para os outros, para Deus. As conseqüências benignas já poderão ser sentidas agora, mas garanto: mais adiante, quando as responsabilidades da vida baterem à porta, você estará verdadeiramente preparado.
E nem adianta confiar na opinião da turma de “narcisos”: para eles não há adiante, nem horizontes.
Ofereço essa crônica ao meu ídolo, meu mestre, minha fonte de inspiração e força de todos os dias: meu pai (que também se chama Wanderlei), que estará fazendo amanhã, 06/06, 48 anos de idade. Parabéns, meu pai, e obrigado por tudo e mais um pouco!!!
São Paulo, 05/06/2008. W.E.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário