sábado, 5 de março de 2011

Crônica - Ano IV - Nº 156 - "A alma"

Carnaval, Quaresma, mais um pré-Páscoa. Aliás, Páscoa essa que vai cair bem tarde, esse ano - assim como o Carnaval. Para os curiosos: o Domingo de Páscoa é definido como o primeiro Domingo após a primeira lua cheia (plenilúnio) que ocorre depois do Equinócio de Outono (20 ou 21 de Março - Primavera, no caso do Hemisfério Norte, de onde surgiu a data). Como essa lua cheia não tem data fixa, a Páscoa muda sempre de data, assim como o Carnaval, véspera do início da Quaresma (40 dias até a Páscoa).

O Carnaval ("Carnem Levare", em latim, que significa: "levem a carne") seria o último dia de "farra" antes do tempo de penitência da Quaresma. Essa farra seria: comer carne (daí o nome), ingerir bebidas alcoolicas, e essas coisas. Hoje o rigor da Quaresma é "brincadeira de criança": só se pede jejum e abstinência na Quarta de Cinzas e na Sexta-feira Santa, e ainda bem leves.

Peraí, Wanderlei... que papo "piegas" é esse? "Vamo pará"?

Calma, amigos... resolvi iniciar a crônica contando toda essa história do Carnaval, Páscoa e um pouco de suas tradições para colocar tudo isso como pano de fundo para o tema central da crônica: a alma.

O ser humano, mais que um corpo físico, possui em sua essência uma alma que faz uma "tabelinha" com esse corpo. É essa alma que dá ao homem os elementos que o diferenciam de outros animais: a racionalidade, a consciência, o critério. Nos outros animais não vemos isso, mas sim instintos, no máximo a retribuição pelo carinho que nós damos a eles. Essa alma pode ser tecida de maneira boa ou má, pelas inúmeras virtudes ou vícios, e com isso ir forjando nossa consciência, também para o bem ou para o mal.

Ocorre que muita gente, se não leva a sério essa tabelinha alma-corpo, não está nem aí para a sua alma e consciência. Pelo contrário, preferem vê-la submissa aos puros instintos do corpo, como acontece nos outros animais. Não à toa, é hoje banalizado o sexo selvagem e sem compromisso, o "beber, cair, levantar" (como diz a música-chiclete), a violência gratuita e brutal para com crianças, jovens, adultos e idosos, o menosprezo e zombaria para com quem "ainda leva em conta" as virturdes em seu código de conduta e o aplauso para quem vive de falcatruas e "passações de perna". Infelizmente, muita gente passará estes dias de Carnaval aplaudindo condutas que tem tudo a ver com o descrito nas linhas acima, ao invés de considerar o Carnaval como uma festa saudável, onde os valores têm vez sim senhor, junto com o samba, plumas e paetês. Almas literalmente jogadas na lata do lixo, e a carne sendo tratada como mais uma peça, tal qual num açougue. Triste.

Os próximos dias, Carnaval ou Quaresma, devem servir como um tempo de despertar da alma do homem. Tempo de pensar mais nos outros e ajudá-los, de se examinar onde se está errando ou acertando, de estreitar os laços com o Criador e pensar que não somos um mero pedaço de carne que pode ir pra mão de qualquer um. Tudo isso não se opõe em hipótese alguma à alegria do Carnaval; pelo contrário, o folião que tem verdadeiros motivos pra pular de alegria é aquele que sabe muito bem quem ele é e do que é feito, e que não se contenta por ser uma besta ou animal de chiqueiro, caindo na lábia tão cantada em certos trios elétricos e músicas de duplo sentido do "liberou geral". O verdadeiro folião usa bem a liberdade para extravasar sua alegria junto com os outros e por tudo que tem conquistado sem separá-la da virtude, da decência, da postura de homem com H ou mulher com M, que sabem se dar valor no corpo e na alma. E que, assim, já estarão preparando - muitos sem saber - a alma para a Quaresma e Páscoa que se seguem.

Que pulemos o Carnaval, com o samba, a cervejinha - moderada - e a alegria que se tem direito. Mas que jamais dissociemos essa festa tão cheia de cores da virtude. Somos homens com corpo e alma, dons eternos e valiosos demais para trocarmos por um prazer animal efêmero que vai-se embora a cada Quarta de Cinzas, tornando a data - injustamente - vilã de tantos pseudo-foliões.

São Paulo, 05/03/2011. W.E.M.

2 comentários:

André Henriques disse...

Só para constar. Não é por conta do outono a páscoa, e sim a primavera. Não devemos esquecer que essa data veio do hemisfério norte. A Páscoa tem a ver com renascimento, renovação, sempre teve e nada melhor do que a primavera para simbolizar isso.

Abraço!

Prof. Wanderlei Evaristo de Mattos disse...

Perfeito, André. Só coloquei Outono "adequando" a data para o nosso hemisfério, heheheh. E a passagem do Verão para o Outono também mostra essa renovação, aqui em nosso hemisfério. Hora das árvores trocarem sua folhagem, o sol dar um tempo para voltar com toda a força na Primavera (mas com esse tempo maluco, ultimamente anda difícil dissociar os dias de sol dos dias sem sol, né...).

Abraço!