domingo, 14 de novembro de 2010

Crônica - Ano III - Nº 147 - "Hipócritas"

Nestes últimos dias, em que mais uma vez estive "sumido" de meu Orkut (tô devendo crônicas, fotos, frases...), pude observar os duelos recentes na sucessão presidencial (?).

Como se já não bastasse observarmos as campanhas políticas brasileiras caindo na piada, no factoide, nas mentiras e nas promessas que beiram o ridículo, literalmente houve neste mês de Outubro um processo claro de "beija-mão", de políticos indo e vindo por santuários, igrejas, discursando sobre as questões de fé. Eu como católico poderia estar feliz por ver essa defesa da fé (afinal, ambos presidenciáveis se disseram católicos, certo?), tal qual cruzados da Idade Média que os candidatos vieram fazendo. Mas na verdade, fiquei muito decepcionado: por trás da máscara, a mais deslavada hipocrisia, de ambos os candidatos, tão contrária a essa fé católica que eu professo e que os candidatos professaram.

Hipocrisia é falar ou pensar uma coisa sobre determinado assunto, mas não reproduzir nas ações aquilo que se falou ou pensou. O hipócrita é aquela figura que chamamos popularmente de "duas caras", com dois pesos e duas medidas. Cristo por várias vezes criticou severamente os hipócritas nos Evangelhos, mas não precisamos chegar a tanto: pensemos agora em nosso ambiente profissional ou acadêmico. A pessoa mais ateia que se possa conhecer concordaria com as críticas de Jesus, ao pensar naquele colega de trabalho que lhe dava tapinhas nas costas e depois o apunhalou diante do chefe, ou naquela namorada ou namorado que lhe falou juras de amor ainda ontem, e que hoje, na balada, lhe colocou um belo par de chifres...

Agora pensemos na política, quando procuramos eleger nossos representantes por sua postura íntegra, de uma peça só, sincera. Imagina, então, toparmos com a hipocrisia? É o que temos hoje, em nossa eleição presidencial: dois candidatos de condutas hipócritas, querendo fazer média para ganhar votos. E não me refiro somente ao aborto, ao qual sou terminantemente CONTRA, com Caps Lock ligado: me refiro à outras questões, como as condições de educação, trabalho, habitação... Me diga: você viu algum debate sério entre os candidatos sobre essas questões, sem partir para ofensas pessoais, dossiês e coisas do gênero? Houve uma conduta íntegra, de pessoas que falam e agem conforme seus valores e ideais por parte dos presidenciáveis? Eu não vi isso: o que vi foram duas condutas mutáveis como camaleões, de acordo com a freguesia a qual se discursava. E essa postura é cada vez mais frequente no âmbito da política.

Amanhã, 31/10, irei às urnas não para contradizer o que comentei há algumas crônicas atrás, quando me manifestei contra o voto nulo. Votarei nulo, mas simplesmente pelo fato de não querer compactuar com a hipocrisia e a falta de discussão de ideias, tão daninhas à política. Eu tenho fé, muita fé na política, e torcerei para que o candidato eleito faça um bom papel e acorde para se mostrar uma pessoa de ideias e valores firmes no ato de governar. Mas na política e movimentos é fundamental abolir a figura do "menos pior", "vou votar naquele mais ou menos...". Não: um futuro vitorioso depende de pessoas que tenham uma conduta condizente com o que pensa, e não em cima do muro.

Como bem menciona o Apocalipse, Deus diz a cada um de nós: "oxalá fosses frio ou quente, mas como é morno, vou te vomitar". Taí uma passagem bíblica que esses candidatos poderiam ter lido nas últimas semanas, antes de mostrarem perante todos os brasileiros tanta hipocrisia e falta de coerência. Que a política, os políticos e todos nós brasileiros tenhamos em mente essa passagem: eis uma conclusão que cheguei, diante da eleição que se encerra.

São Paulo, 30/10/2010. W.E.M.

Um comentário:

Engenholiterarte disse...

Pura decepção, Wan. sinto a mesma vergonha - a de não poder confiar, pois os ventos podem levar para qualquer lugar...