quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Crônica - Ano III - Nº 107 - "Fio da navalha"

Tô numa correria tão grande com o meu trabalho final de graduação (cuja apresentação será dia 17, e estão todos convidados, ok?), que o tema para mais uma crônica até que apareceu de forma mais, digamos, "simples". Tô literalmente no "fio da navalha".

Uma pessoa que está no "fio da navalha", segundo os melhores dicionários informais, vive um momento decisivo, difícil de ser atravessado. A expressão tem origem nas batalhas de antigamente, onde o pessoal ia pra guerra com uma espada na mão, e muitas vezes ficaram frente a frente com a espada inimiga prestes a lhe traspassar.

Já disse isso em outras crônicas, mesmo talvez na anterior, ainda que não de maneira direta: nessa nossa vida, estamos no ringue, lutando round a round a cada dia. Ficando sei-lá quantas vezes exposto ao fio da navalha, bem afiada, aguentando desaforos, pegando chuvas (que o diga essa semana...), enfim, tendo uma rotina nada fácil. Daí surgem duas escolhas: ou ir com navalha em punho enfrentar o desafio, ou deixar-se cortar.

Certa vez, ouvi de um amigo a seguinte expressão: "olha, pra gente conseguir ser feliz nessa vida, é necessário abrir mão". Pensei, pensei, e cheguei à conclusão de que ele está certo. Já pensou se vivêssemos em um mundo onde não desse pra ceder um só milímetro? Os relacionamentos iriam para o fundo do poço, os trabalhos seriam torturas chinesas (chefe inflexível é f...), nunca mais chegaríamos atrasados a um ponto de ônibus, pois saberíamos que o motorista não iria parar para nós, e por aí vai. Da mesma forma, aqueles que correm atrás do sucesso em qualquer campo precisa, muitas vezes, deixar um determinado objetivo em prol de outro, arriscar, tomar uma decisão pra defender aquele seu sonho. Há cerca de um ano uma amiga minha se mandou com mala e cuia para outro país. Ela disse: "deixo sonhos aqui porque justamente eles seriam lastro para outros que batem à minha porta agora". Não adianta: vai passar ano após ano e você, eu, qualquer um precisará estar frente a frente com o fio da navalha. Teremos de duelar contra nossa vontade, contra nossa preguiça, contra os malditos finais de semestre de faculdade ou balanços de final de ano das empresas.

Mas esse duelo nunca deverá ser à toa: são precisos objetivos magnos por trás desse fio da navalha. Não vamos pro ringue pra apanhar, e pronto: vamos pra bater. Esse tipo de pensamento vale exatamente pra nossa luta cotidiana: não estamos no "fio da navalha" simplesmente por um seco masoquismo. Por objetivos grandiosos, novas etapas que batem à porta, é que vamos pra labuta. Não tê-los tornaria essa labuta insuportável, inútil, podre.

Portanto, estamos caminhando para o meio (!) de Dezembro. Já, já é Natal, e muitíssimos de nós ainda terão que ficar no "fio da navalha" ainda este ano. Cabe a nós olharmos de frente pra essa navalha, com "sangue nos zóio", sabendo que tem algo grande esperando depois que vencermos o desafio. Vamos acordar neste mês de Dezembro (tradicionalmente um mês onde acaba a gasolina de muitos de nós, que rezam para o outro ano começar logo) com o máximo de "sangue nos zóio". Pra começarmos um novo ano e encerrarmos este bem, só indo pra cima até o dia 31/12. Ir pra cima não é bancar o ativista, que quer fazer várias coisas ao mesmo tempo e esquece dos valores mais simples, pelo contrário: o que vai pra cima até 31/12 simplesmente não cederá ao perigo do desânimo ou do cagaço na hora de ficar no fio da navalha. Trabalhará, vai ter alegrias e tristezas, mas em todas as ocasiões não tirará o sorriso do rosto. Um recente comercial de cerveja enaltece bem isso, ao afirmar o brasileiro como um sujeito que não treme diante de um desafio incomensurável e bate no peito ao lembrar de sua luta diária.

Enfim, quando você sentir-se batendo de frente com o fio da navalha, não fuja. Vai de encontro a ele, mesmo que você se corte. O mundo precisa de gente que não tem medo de cara feia e dos desafios, que a vida nos traz.

Que venha o TGI!

São Paulo, 10/12/2009. W.E.M.

2 comentários:

JL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JL disse...

É isso aí Wanderley!!!sangue no zoios...é simplesmente um luxo!!rs..beijos