segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Crônica - Ano III - Nº 106 - "Última volta: saber ganhar"

Em 2008, a crônica 17 tinha o título "saber perder". Na crônica desta semana chegou a hora de falar justamente do contrário, que seria o "saber ganhar".

Me inspirei para falar desse tema graças a uma palestra que assisti na última sexta-feira. Nela, ouvi sobre a importância do sino nas provas de fundo do atletismo: quando o árbitro toca o sino, é indicada a última volta aos corredores. É chegada a hora de todo o fôlego guardado ser posto pra fora, na busca de mais um segundo, uma passada a mais, que pode ser decisiva. E esse exemplo encaixa-se perfeitamente em minha vida e a de muitas outras, já que o ano está chegando ao final e o sino do último mês será tocado! Fôlego pra fechar o ano bem!!!

É aí onde entra a questão do saber ganhar. Muita gente confunde humildade com conformismo: ah, não vale a pena correr atrás! Vamos ver "no que é que dá". "Ah, eu tentei". "O importante é competir". Enfim, chavões clássicos daqueles que tem capacidade de tirar 10, mas por uma falsa humildade, tiram 5. Definitivamente, isso não é humildade.

Santa Teresa (minha "ídola"), dizia há séculos que "a humildade é a verdade". E não estava errada. O humilde não menospreza, mas sabe de sua capacidade: se é possível tirar 10, ganhar sempre, vai lutar para ganhar. Mesmo Cristo repreendeu na famosa parábola dos talentos aquele que preferiu esconder o talento, ao invés de fazê-lo render tal qual seus companheiros o fizeram. O humilde terá paciência, comerá grama, ficará calado e engolirá muito sapo e gozações, mas jamais vai ficar parado ao ouvir a badalada da última volta. Tudo isso porque ele estará cônscio de que pode, que dá pra chegar lá! Não escondeu a verdade.

Desconfie, pois, ao ouvir um discurso de "percamos e nos conformamos". As lições da derrota devem ser aprendidas, mas justamente para que elas revertam mais adiante em vitória. Engolir uma derrota já esperando por outra a seguir, ao invés de aproveitá-la para lições importantes para as vitórias surgirem não é uma postura de hombridade, mas sim de covardia. E os covardes, como vimos, nem mesmo Deus vai com a cara. Ele espera de nós (assim como aqueles que nos cercam) não vitórias atrás de vitórias, mas sim luta: perdeu, levanta e aproveita o tombo para que a vitória se construa. É como aprender a andar de bicicleta: só aprendemos tomando muitos tombos, e esses só ganham sentido por justamente eles nos levarem, mais adiante, a não cair mais, já que ganhamos com eles equilíbrio e perspicácia. Sozinhos eles não são nada.

As conquistas dessa vida (e a da futura) dependem de "saber ganhar". Uma pessoa, instituição, clube de futebol entre outros exemplos arrastam outras e servem de exemplo somente quando não se deixam ficar "atrás da moita". Os grandes líderes e instituições só ficaram marcados na História por ralar muito e conquistar, aproveitando as derrotas visando à frente a vitória. Esse tipo de pensamento, quando não sufoca nossos valores, fé e pessoas é muito válido e super-benéfico para todos: atrai pessoas querendo ajudar, fortalece nossa força de vontade, nos torna mais fortes na hora da dor ou derrota... enfim, nos torna homens de garra, cria instituições de garra, que crescerão e atrairão forças de outras partes do planeta, graças à sua força. Imaginem só esses homens unidos (uns 50 deles): poderiam erradicar muita podridão de nosso mundo, justamente por não abaixarem a cabeça.

Não seria esse o problema: estarmos num mundo formado cada vez mais por conformistas, que poderiam agir como uma Ferrari mas agem na verdade como um Fusquinha, que se conformam com a 17ª posição ao invés de irem pro pau e lutarem pelo topo do pódio, ou que dão pra trás ao ouvirem o sino da última volta?

Portanto, toca o sino da última volta do calendário de 2009, e muitas outras badaladas virão em nossas vidas. A nós caberá não parar ao ouvi-las, mas sim correr com a última gota de sangue até a linha de chegada, como alguém que com certeza sabe ganhar.

Uberlândia (MG), 01/12/2009. W.E.M.

Um comentário:

JL disse...

Reflexões e arte...é uma humildade esse menino viu!rs