terça-feira, 24 de novembro de 2009

Crônica - Ano III - Nº 105 - "Vaidade"

Há algumas semanas vimos o caso de uma aluna sendo humilhada em uma universidade particular, devido ao vestido que usava na ocasião. Sem dúvida, a atitude dos alunos da universidade em dirigir palavras obscenas à colega não foi nada elegante, e da mesma forma a aluna acabou "colhendo o que plantou": num certo programa, uma moça foi convidada a sair pelas ruas de São Paulo com um vestido semelhante ao da aluna. Com uma câmera escondida, as reações por parte dos homens foram as mais, digamos, "picantes" possíveis. As mulheres que conheço já sabem que ultimamente não é preciso muito pra chamar a atenção do sexo oposto: basta uma peça mais sensual e pronto. Enfim, é um tema que daria "pano pra manga" pra diversas rodas de conversa.

Mas quero focar aqui em uma das entrevistas concedidas por essa aluna. Na entrevista, via-se ela se deliciando com sua própria imagem nas capas de jornais e revistas que forravam a mesa. Em uma de suas primeiras falas, já soltou: "adoro chamar a atenção, sou muito vaidosa". Não demorou muito a aparecerem convites para entrevistas, programas humorísticos, revistas masculinas, cortes de cabelo. Venceu a sua vaidade, e aquela que antes era reconhecida por ser vítima da ira de seus colegas hoje virou "sex appeal", fazendo com que os outros deixassem de lembrar do caso. Seria essa a intenção dela? Vai saber...

Amigos, a vaidade! Ela constitui-se como o desejo de atrair a atenção de outras pessoas, o que pode tanto ir para o bem como para o mal, uma "faca de dois gumes". Isso porque o ser humano necessita da vaidade para as suas relações humanas. A mulher, para chamar a atenção do amado, não poupam artefatos para ficarem mais bonitas, com uma maquiagem no tom certo, uma roupa mais elegante, um detalhe no cabelo... Da mesma forma o homem para com a mulher, com um perfume mais agradável, um cabelo penteado. No trabalho, a vaidade também aparece: um terno ou gravata alinhada, uma mesa arrumada, o relatório no capricho. Enfim, seria possível listar aqui uma série de trejeitos (excelentes, por sinal) que o ser humano usa para chamar a atenção daqueles que vai encontrar, ou seja, usar da vaidade.

O problema está quando essa vaidade retroalimenta o perigoso egoísmo. Aí ela será a má vaidade, pois vira presunção, soberba. Enquanto a boa vaidade é feita para os outros, a má vaidade volta-se para si próprio. Não é incomum toparmos com aquele sujeito que arrota suas virtudes, sua nota na prova, seu carro novo, sua beleza física ou seu iate, com o simples intuito de que os outros olhem pra ele e lhe prestem "reverência". A boa vaidade torna as proezas de nossas vidas como meio de nos aproximarmos dos outros, enquanto a má vaidade leva a pessoa a se afastar dos outros, já que com ela se busca o pedestal, onde só caberá a si própria.

Vale a pena sermos vaidosos, mas quando usamos da vaidade não para sermos considerados a "última bolacha do pacote", mas sim mais uma bolacha do pacote. O espelho, símbolo clássico da vaidade, pode ou mostrar uma pessoa se arrumando para ficar mais bonita para os outros ou para si própria. E não raras vezes vemos essas pessoas que usam de uma vaidade altruísta chamarem mais a atenção e obterem maiores frutos: li certa vez sobre uma moça que, nos estudos para o vestibular, estava super bem. Tirava 10 em todos os simulados, porém nunca fazia alarde disso, só quando lhe perguntavam. Entretanto, um amigo dela estava em situação contrária: desanimado para estudar, não passava de 40% de acertos nos exercícios. A menina, ciente de que era craque nos estudos mas querendo ajudar, se aproximou do amigo e disse: "olha, se quiser, podemos estudar juntos. Posso te ajudar com o que aprendi até agora. Vamos?". Nem é preciso dizer que o rapaz topou, pois sabia que ela era "crânio" e melhorou seu desempenho nos simulados.

Assim, fica a oportunidade de examinarmos nossa vaidade. Ah, e tirem suas conclusões se a vaidade da aluna da entrevista é ou não "do bem". Eu já tirei a minha.

São Paulo, 24/11/2009. W.E.M.

Um comentário:

***Engenholiterarte*** disse...

Olá Wan! Gostei muito das suas observações a respeito da vaidade. O caso da UNIBAN, a princípio, parecia um ato de discriminação dos colegas contra a moça. A princípio, porque não sabemos dos antecedentes da questão... Depois, ela se aproveitou da história - como muitas já fizeram -, para ter os seus 15 minutos de fama e, quem sabe, emplacar no mundo das "Celebridades" da TV ( já que hoje qualquer um é celebridade...). O fato é que também não é justo que as pessoas venham a denegrir a imagem da Universidade que, errou, é fato, mas não foi lá dentro que as pessoas ( isto é, alunos) aprenderam a lidar com os OUTROS - pois isto é uma tarefa que vem de berço e só depois passa para as salas de aula ( e salas - no plural -, o que significa dizer ensino infantil, fundamental, médio...). É simplista demais! Além disso, quantas vezes nós já presenciamos cenas de discriminação e preconceito dentro da USP? Mais veladas, discretas, mas presentes.O problema está na formação humana e, depois de "velho", amigo, não tem conserto! Assim, não consigo ver perfeição em parte alguma... Contudo, e diante das tantas piadinhas que estão sendo feitas em relação ao caso, fica a pergunta: e a mulher muçulmana? Não está sendo discriminada? Onde está o respeito dos brasileiros para com essa comunidade? Em que sentido somos ( como brasileiros e de costumes diferentes ) melhores dos que os colegas agressores quando comparamos e violamos o costume delas?
Em que essas pessoas que criam piadinhas são melhores do que o "infeliz" do reitor, que resolveu impensadamente, expulsar a garota? Ou que os colegas que a puseram para correr? A pior parte para mim é mexer com os inocentes e violar com sarcasmo suas crenças e costumes. Quem quer mostrar que mostre. Mas quem não quer, porque tem que ser ridicularizado??? De tudo o que realmente me incomodou não foram as pernas da moça e nem a inabilidade do reitor, foi o "sujo falando do mau lavado"...