segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Crônica - Ano III - Nº 104 - "Em casa 2: Personalidade"

Na crônica da última semana, falei sobre a sensação de se "sentir em casa", quando se tem Deus presente em nossa vida. Hoje, quero voltar ao tema do sentir-se "em casa", mas com outro enfoque: pessoas que fazem as outras se sentir "em casa", com gestos e comportamentos fraternos, mais doces que o mais puro mel deste mundo. Essas pessoas possuem personalidade.

Não faz muito tempo, um amigo compareceu a uma das festas uspianas, só que não tinha lugar para passar a noite, depois da festa (sabe lá Deus que horas seria esse "depois", heheheh...). De repente, aparece outro amigo nosso em comum, que fica sabendo do aperto desse meu amigo. Sem pestanejar, ele diz: "Cara, pode pousar em minha casa. Já tem um colchão preparado". Ele sequer conhecia meu amigo, mas o ajudou, sem qualquer mostra de birra: o fez de coração, com personalidade.

Procurei vários significados para personalidade. Um deles: "É o conjunto de características psicológicas que determinam a individualidade pessoal e social de alguém". Ou seja, uma pessoa possui personalidade quando tem uma característica individual consolidada, que chama a atenção, muitas vezes sem sequer recorrer a muitas palavras pra isso. A pessoa de personalidade não é adepta do "maria-vai-com-as-outras", possui uma opinião formada de diversos assuntos após uma ponderação razoável, e tem uma postura que é única aonde quer que ela vá ou esteja. Quer um exemplo corriqueiro? Apelemos novamente à máxima do futebol: um camisa 10 aguerrido, que não se esconde do jogo, que vai pra cima, dribla e faz muitos gols geralmente é chamado pelos cronistas de "jogador de personalidade", pois dá a cara pra bater e joga sem medo de cara feia, com naturalidade.

E o que tem a ver uma pessoa de personalidade com o tema "sentir-se em casa"?

Justamente as pessoas de personalidade sabem como ninguém fazer as outras se sentirem "em casa". São elas que não tem receios de fazer novas amizades, puxar um papo, contar uma piada ou chorar junto na hora da dor. Elas não se escondem, não se perdem no meio da massa: ao contrário, contagiam a massa. No trabalho de campo que fizemos a Ouro Preto, uma amiga minha falou de um amigo em comum que rapidamente fez amizade com moradores da cidade: "pôxa, esse cara é muito social! Onde ele vai, ele conquista a galera". Pois bem, esse meu amigo traduz bem o que é ser uma pessoa de personalidade: é o que é, e justamente por isso atrai os que estão ao redor, pois estes últimos, ao conversar com ela, se sentirão "em casa".

Vale a pena uma rápida indagação pessoal: deixo os outros "em casa", quando estou por perto? Tenho personalidade onde quer que eu vá, ou sou daquelas pessoas que preferem ser mais um número, ficando atrás da moita? Detalhe: isso é diferente de timidez. O tímido, por sua caracterologia, possui dificuldades de relações sociais, mas luta como pode. Já a pessoa que se exime de personalidade é aquela que se esconde de propósito, inclusive muitas vezes por uma falsa humildade: "não vou falar isso pois aí o pessoal vai falar mal de mim". Ela sempre fica em cima do muro, pensando primeiro no que os outros irão achar pra depois pensar no resto. Dá pra se sentir em casa na companhia desse tipo de pessoa? Difícil, pois como ter certeza de que ela está sendo contigo o que ela é de verdade?

Grandes movimentos, mudanças e invenções só deram certo graças àqueles que deram a cara pra bater, que tiveram personalidade e que faziam os outros estarem como que na própria casa, sem uma posição egoísta mas sim, parafraseando uma música do Chico Buarque, "com açúcar e com afeto", por grandeza de alma. Portanto, será que não faltam mais almas grandes, de personalidade, e justamente por isso vemos movimentos de resultados tão pífios, como vira e mexe vemos por aqui na USP, por exemplo?

Portanto, pessoas de personalidade, que agitam, e não agitadores "umbiguísticos". Desses, a sociedade está "por aqui" (mão no cocoruto da cabeça).

São Paulo, 17/11/2009. W.E.M.

2 comentários:

Blog do Will2S disse...

Belo blog! Com o tempo eu acabo esquecendo o que me falam, os presentes que ganho, os momentos vividos... mas nunca esqueço o modo como s pessoas me tratam. Se a vida fosse um campo... muitos camisas 10 conheci. Fé em Deus que estejam bem e que um dia eu os reveja. Tomara que eu também tenha sido um 10 na vida destes.

Prof. Wanderlei Evaristo de Mattos disse...

Grande Will!!

Opa, se vc se esforçou e os deixou "em casa", com certeza vc está no time titular deles, fique sussa! Vc tá escalado no meu, hein, heheh! Mas tem que trocar a camisa do Curintia: essa não é 10, haha!

Abraço!