segunda-feira, 16 de julho de 2012

Crônica - Ano V - Nº 186 - "Deixa rolar"

Não levo a sério os horóscopos da vida, mas uma das características que remetem ao signo de aquário (o meu, no caso) seria o perfil futurista, calculista. Traçar planejamentos, sonhar longe com os objetivos já concretizados, imaginar situações. Duvide de um silêncio aquariano: ele está fazendo alguma previsão.

Devo confessar que essa é uma característica particular minha: traçar metas, fazer cálculos, pôr na prancheta e ver os caminhos... como se aquilo que é almejado viesse assim, fácil, calculado, tal como vem o 4 numa conta de 2+2. E posso confessar mais uma coisa: isso pode até ser bom... mas é ruim. Pois vai contra o título dessa crônica de férias.

Nos últimos tempos, venho percebendo que alguns resultados que eram esperados em devaneio passaram longe do mundo real. Tal qual o apostador que deixa sua aposta de Mega-Sena e já pensa no que fazer com o dinheiro, antes de entregar o volante de aposta. E a vida está longe de ser o resultado de uma operação matemática. Ela conta com o imponderável: aquela situação surpreendente, a pessoa inimaginável que você conheceu, uma oportunidade que se descobre nas ruas da cidade... Esse dia que nasceu, meu caro, pode te surpreender. Pra melhor. Pra pior. Pode, sim, te surpreender, deixar sequelas, te fazer pensar, mudar.

Entretanto, para isso é fundamental que se deixe rolar. Sem forçar barras, criar situações hipotéticas ou prensar/apressar o destino, pulando etapas. Meu orientador de mestrado certa vez, disse que o próximo passo é consequência do passo anterior, sem precisar forçar a barra. É fato: quando agimos com reta intenção, buscando ideais e objetivos que valem a pena, a vitória será nossa cedo ou tarde, no momento certo, quando mais precisávamos. O problema está em quando resolvemos atacar a sobremesa antes da refeição principal. Perdemos a fome, e relegamos aquele prato que realmente iria saciar, mas não vimos por pura gulodice.

Deixar rolar. Nos relacionamentos (pra que forçar a barra ou dar murros em pontas de faca?), no trabalho e estudos (pra que sair desesperadamente do emprego por conta de alguns reais a mais que não compensaria, ou então pelo diploma de Pós pelo simples "tê-lo"?), nas preocupações e sonhos... O que é seu, com esforço e ações acertadas, virá, deixando rolar e sem atravessar as situações com ações impensadas de nossa parte.

Quando agimos com precipitação, querendo queimar etapas, colocamos em risco o nosso sonho. Na maioria das vezes pagamos caro por nossa precipitação, ou ainda abrimos os olhos para a situação real. E a solução para seguir as etapas é... deixando a vida nos levar. Cumprindo com o proposto no dia, mas sem medo da cara feia das surpresas que a vida traz para nós. A vida é assim: nos chama para dançar, e ela não quer que você vá fazer um curso ou ler o manual de instruções para dançar com ela. A vida quer dançar contigo do jeito que você sabe dançar, e com o passar das danças, dos ritmos, vamos aprendendo.

Uma última coisa: deixar rolar não é a recusa em planejar. Muito pelo contrário: é deixar rolar sem ficar preso aos planejamentos e planilhas, ser flexível às circunstâncias. Andar leve, colocando as preocupações nas mãos (e Mãos) de quem irá resolver, e fluir. Hoje podemos perceber em nossos semelhantes: por onde anda essa leveza? O mundo anda meticuloso, tenso, num contra-relógio incômodo, e deixando o melhor da vida para escanteio. É o seu caso? Quais os fins daquilo que você faz? Você deixa a vida rolar, ou está com ela escrava do relatório de quarta-feira, do tempo bom ou ruim, do humor da pessoa amada, e assim por diante? Não, não... a Vida não nasceu pra ser escrava: nasceu para ser leve, para ser rolada. Deixa rolar. Tranquilo, tranquilo. Age, tem fé... que isso em que estava planejando e meticulando sairá com a certeza de que o Sol nascerá amanhã.

 Eis o propósito principal de resolução de férias deste que lhe escreve: ser menos, bem menos, "aquariano". ;)

 São Paulo, 15/07/2012. W.E.M.

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