segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Crônica - Ano II - Nº 91 - "Pega-pra-capar"

Na última semana, tive a oportunidade de tomar uma cervejinha com um amigo meu, após um futebol pra fechar bem esse primeiro (e difícil) semestre! Muitos foram chamados, porém não houve entusiasmo por parte da galera, e o happy-hour ficou entre poucos amigos uspianos.

Esse meu amigo logo falou, ao ver a escassa quantidade de pessoas: "Pôxa, eu desisto! Toda vez que a gente tenta reunir a galera, poucos vêm! O pessoal é mole demais!". Era uma quarta-feira de férias.

Não irei aqui crucificar quem não pôde ir no "happy-hour", como fez meu amigo. Cada um devia ter motivos pertinentes, e além disso foram convidados, não intimados. Éramos todos livres pra dizer "sim" ou "não" ao convite, portanto.

Mas aproveito essa situação e essa reclamação de meu amigo para falar de uma expressão que um bom número de pessoas até hoje utilizam: "ir pro pega pra capar".

"Pega-pra-capar", segundo os dicionários de expressões populares, significa "confusão, imbróglio, problema". E as pessoas que "vão pro pega-pra-capar" são as pessoas que encaram essas situações de frente, sem fugir, sem desculpas esfarrapadas.

Os que geralmente "vão pro pega-pra capar" são pessoas com quem se pode contar a qualquer momento. Não possuem medo das dificuldades, sabem com maestria vencer desafios ou lidar com pessoas difíceis. Dão valor ao compromisso ou à palavra dada. Lembro de certa vez, quando um amigo meu ficou internado. Depois de convalescer, a primeira reclamação deste foi com relação à sua família: "Alguns amigos próximos foram me visitar, mas justamente meus parentes não foram, bem na hora do aperto". Pois é, os amigos fizeram jus à expressão, já os parentes...

Uma pessoa que foge desse "pega-pra-capar" não curte desafios ou compromissos. É boa de papo, pois a primeira coisa que fala ao receber uma proposta é "conta comigo", porém no desenrolar dessa proposta o que vemos é um "não conte comigo". Faço parte de um grupo que estuda um assentamento do MST em Americana. Em conversa com os assentados, pude ver como eles se abatem com a falta dos que "vão pro pega": "Um montão de gente veio aqui e prometeu muito, mas na hora de cumprir ou voltar, nada!". Enfim, vivem de "rolos", mas compromisso ou seriedade que é bom, escassa.

Cada pessoa tem uma circunstância, e sempre estamos sujeitos a situações emergenciais, claro. Porém podemos aprender a ser pessoas preparadas pra lidar com os "problemas" da vida, ser pessoas que "vão pro pega-pra-capar". É preocupante quando, em situações cotidianas como a citada acima e em muitas outras, topamos com gente que vive dois tipos de política: ou a "política do avestruz" (que esconde de forma ridícula a cabeça num buraco diante dos perigos), ou a "política do umbigo" (só farei o que EU gostar e só irei aonde EU quiser: o resto, que se f...). Muitas vezes nesta vida somos chamados a "ir para o pega", e viver uma das duas políticas acima são formas muito sutis de fugir desses pegas da vida. O resultado disso? Panelinhas, solidão, coleguismos ao invés de amizades, "rolos" ao invés de compromissos, egocentrismos, vícios, preguiças mil de levantar do sofá, "tanto-faz"... tristeza.

Que sejamos, pois, conhecidos por ser pessoas que vão pro "pega-pra-capar", que são "pau pra toda obra", que "não fogem da raia", que "dão o sangue". O mundo, direta e indiretamente, clama por gente que vai correndo em direção ao incêndio, ao invés de fugir, como os heroicos bombeiros o fazem (já imaginou se não o fizessem?).

Duvida de que este mundão tá infestado de gente que foge do "pega-pra-capar", avestruzes e "umbigos"? Se você tem dúvidas, convido-lhe a abrir a página de política de qualquer jornal dos últimos dias. Ali você vai ver um montão, e um convite especial para encarar esses "pegas" da vida, pois do contrário estaríamos aliados a esse montão de frouxos, avestruzes e umbigos que representam somente a ponta do iceberg dos que fogem do "pega-pra-capar".

São Paulo, 17/08/2009. W.E.M.

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