Esse meu amigo logo falou, ao ver a escassa quantidade de pessoas: "Pôxa, eu desisto! Toda vez que a gente tenta reunir a galera, poucos vêm! O pessoal é mole demais!". Era uma quarta-feira de férias.
Não irei aqui crucificar quem não pôde ir no "happy-hour", como fez meu amigo. Cada um devia ter motivos pertinentes, e além disso foram convidados, não intimados. Éramos todos livres pra dizer "sim" ou "não" ao convite, portanto.
Mas aproveito essa situação e essa reclamação de meu amigo para falar de uma expressão que um bom número de pessoas até hoje utilizam: "ir pro pega pra capar".
"Pega-pra-capar", segundo os dicionários de expressões populares, significa "confusão, imbróglio, problema". E as pessoas que "vão pro pega-pra-capar" são as pessoas que encaram essas situações de frente, sem fugir, sem desculpas esfarrapadas.
Os que geralmente "vão pro pega-pra capar" são pessoas com quem se pode contar a qualquer momento. Não possuem medo das dificuldades, sabem com maestria vencer desafios ou lidar com pessoas difíceis. Dão valor ao compromisso ou à palavra dada. Lembro de certa vez, quando um amigo meu ficou internado. Depois de convalescer, a primeira reclamação deste foi com relação à sua família: "Alguns amigos próximos foram me visitar, mas justamente meus parentes não foram, bem na hora do aperto". Pois é, os amigos fizeram jus à expressão, já os parentes...
Uma pessoa que foge desse "pega-pra-capar" não curte desafios ou compromissos. É boa de papo, pois a primeira coisa que fala ao receber uma proposta é "conta comigo", porém no desenrolar dessa proposta o que vemos é um "não conte comigo". Faço parte de um grupo que estuda um assentamento do MST em Americana. Em conversa com os assentados, pude ver como eles se abatem com a falta dos que "vão pro pega": "Um montão de gente veio aqui e prometeu muito, mas na hora de cumprir ou voltar, nada!". Enfim, vivem de "rolos", mas compromisso ou seriedade que é bom, escassa.
Cada pessoa tem uma circunstância, e sempre estamos sujeitos a situações emergenciais, claro. Porém podemos aprender a ser pessoas preparadas pra lidar com os "problemas" da vida, ser pessoas que "vão pro pega-pra-capar". É preocupante quando, em situações cotidianas como a citada acima e em muitas outras, topamos com gente que vive dois tipos de política: ou a "política do avestruz" (que esconde de forma ridícula a cabeça num buraco diante dos perigos), ou a "política do umbigo" (só farei o que EU gostar e só irei aonde EU quiser: o resto, que se f...). Muitas vezes nesta vida somos chamados a "ir para o pega", e viver uma das duas políticas acima são formas muito sutis de fugir desses pegas da vida. O resultado disso? Panelinhas, solidão, coleguismos ao invés de amizades, "rolos" ao invés de compromissos, egocentrismos, vícios, preguiças mil de levantar do sofá, "tanto-faz"... tristeza.
Que sejamos, pois, conhecidos por ser pessoas que vão pro "pega-pra-capar", que são "pau pra toda obra", que "não fogem da raia", que "dão o sangue". O mundo, direta e indiretamente, clama por gente que vai correndo em direção ao incêndio, ao invés de fugir, como os heroicos bombeiros o fazem (já imaginou se não o fizessem?).
Duvida de que este mundão tá infestado de gente que foge do "pega-pra-capar", avestruzes e "umbigos"? Se você tem dúvidas, convido-lhe a abrir a página de política de qualquer jornal dos últimos dias. Ali você vai ver um montão, e um convite especial para encarar esses "pegas" da vida, pois do contrário estaríamos aliados a esse montão de frouxos, avestruzes e umbigos que representam somente a ponta do iceberg dos que fogem do "pega-pra-capar".
São Paulo, 17/08/2009. W.E.M.
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