É fácil falar aqui, em letras garrafais, de que todo dia é Dia das Mães. Agora, muitos atos que essas guerreiras aguentam por nós passam incólumes. E por isso dediquei o título dessa crônica a essa bela virtude, que é a discrição.
Estou lendo um livrinho chamado "A Maturidade". E nele li a história de uma enfermeira que atendia toda uma cidadezinha, sem por isso receber um único aumento em anos. Chegando um certo médico na cidade, ao tomar conhecimento do heroico trabalho daquela enfermeirazinha, logo foi questioná-la: "Minha senhora, por que não exige que lhe paguem melhor? Cobre, exija! É ridículo a senhora trabalhar por tão pouco!". Ela levantou as sobrancelhas, dizendo: "Tenho o suficiente para viver". Mas o médico insistiu: "Não, a senhora deveria ganhar pelo menos uma libra a mais por semana! Deus sabe que merece!". A senhorinha, dando um leve sorriso, solta, para fechar o assunto: "Doutor, se Deus sabe que que mereço uma libra a mais, é só isso que me importa".
Eis a virtude da discrição. A pessoa discreta não quer saber de rufares de tambores, extravagâncias, medalhas e cornetas em tudo o que faz. O discreto é calmo, na dele. Age com paz, serenidade, e acerta no silêncio e em pequenos atos. É a pessoa que, num machucado, passa o suficiente de pomada, e não entope o machucado com o vasilhame todo ou uma quantidade exagerada.
Agora, podem querer dizer: "Então é feio cobrar o mérito justo? Devemos ficar calados diante dos nossos acertos?". Não é bem assim. O discreto, ao acertar na mão, acerta de forma tão primorosa que outros, com facilidade, reconhecem seu trabalho, como no caso da enfermeira acima. Não é feio reconhecer os méritos. O feio está em encher-se de um ego mesquinho, que faz pensando no que vai receber em troca. Muitas vezes acabamos fazendo isso, mesmo que sem querer: quando emprestamos um dinheiro, um material de faculdade, ao fazermos um favor. Não é fácil ter o coração desprendido... mas tem gente que sequer luta nesse assunto, e adora colocar a presunção em primeiro lugar.
Já pensou se as mães deixassem esse egocentrismo barato passar por cima de seu amor pelos filhos? Talvez muitas preferissem abortar, com medo de "engordar depois do parto" ou perderem a liberdade. A mãe verdadeira sabe ultrapassar a barreira do ego. Ama acima da medida, e não raras vezes, discretamente, é capaz de doar a própria vida pelo filho, como certa mãe fez uma vez, ao ver seu filho se afogando num poço e pular, sem saber que era um poço de dez metros de profundidade...
As mães são verdadeiras mártires sem morrer. Acordam meia hora mais cedo, para aprontar o café. Tomam a bronca por nós na reunião de pais, e muitas vezes nos deixaram a coxa, para comerem o pescoço daquele frango assado. Se apavoram ao ver o filho ou o marido doente, mesmo muitas vezes estando mais doente que eles. Enfim, doam-se... mas sempre discretamente, com um sorriso taciturno que nos força a reconhecer o seu valor até que com extrema facilidade.
Que tal então, nesse dia das mães, imitarmos o médico da historinha acima, e aplaudir todas essas mães, discretas mães, que tem essa entrega tão forte no coração, e que querem passar incólumes como a enfermeirazinha? Tenha certeza de que sua mãe vai dar um sorriso tão gostoso quanto o da enfermeira, e muito mais.
Eu diria que é uma questão de justiça: se humildade é a verdade, queridas mães, vocês são tão ou mais heroínas que a enfermeira da história. Obrigado por estarmos aqui. Obrigado por essa discrição, santa discrição!!! Obrigado, Sueli (minha mãe), pelos 25 anos de discrição!
E para você leitor (aliás, para sua mamãe), UM FELIZ DIA DAS MÃES!!!
São Paulo, 04/05/2009. W.E.M.
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