segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Crônica – Ano II – Nº 53 – “Vida e Morte: Olhar para a frente”

É de praxe lembrar o mês de Novembro como também um mês dedicado a lembrar as pessoas já falecidas, no dia 02/11. Finados.

Para muitas pessoas, uma data extremamente triste, onde veste-se preto e se chora, para lembrar da pessoa querida que já se foi... ou se age com indiferença, pelo medo da morte e de saber que, um dia, seremos nós os protagonistas desta "festa".

Entretanto, para outras (e é a visão da qual partilho), não é uma data que deva trazer à tona tristezas e receios da morte. É uma data de reflexão, onde paramos e pensamos em tudo aquilo que fazemos agora, e o que faremos adiante.

O ser humano tem embutido um gosto especial por tudo aquilo que vem de maneira imediata, que dá prazer na hora. Cobra-se mais e mais agilidade, rapidez, tempo real e fast-foods. Viva aquilo que se curte no momento, e batatas para o que virá depois: quando chegar, damos um jeito.

Mas muitas vezes essa ocasião de dar um jeito, de olhar para a frente e ver o além-horizonte, só chega no leito de morte ou numa ocasião gravíssima. Só aí é que entra a frase de Fernando Pessoa: "Morrer é a curva da estrada".

Neste Domingo, 09/11, cumprindo com uma devoção que tenho, fui fazer um dos meus tempos de oração em um Cemitério, pela ocasião de Finados. E pude ver, em diversos túmulos inscrições que diziam assim: "Agora é que começa a jornada: pensam que tudo acabou, ledo engano: nasço de novo". São inscrições que podem dar dois panoramas: para aqueles que acreditam nessa santa eternidade após a morte, como eu, as inscrições denotam paz, o receio de morrer indo por terra, e a certeza de que estamos nessa terra como passageiros, rumo à Estação definitiva!

Mas para outros, os que acreditam em fim da linha após a morte, o nada, o fim, as inscrições trazem a reflexão: "pra que olhar adiante? Olha o que me espera! Droga de vida! E não me falem mais dessa droga de assunto!"

Amigos, será que estamos andando por esta vida a 300 por hora, mas sem se preocupar com a próxima curva? Ficamos somente no factual, ou sabemos preparar um belo terreno para os posteriores depois, e assim evitamos que eles não nos peguem de surpresa? O tema aqui vai muito além do tema morte: entra em nosso cotidiano. Muitas vezes, preterimos oportunidades preciosas e duradouras pelo simples bom paladar daquele momento "x". Para um pelejador, talvez fosse mais fácil esquecer o oponente do que planejar como vencê-lo. Porém essa atitude muitas vezes mostra um forte quê de covardia, de medo do futuro e de como peitar os próximos embates da vida.

De fato, Novembro também traz à nossa mente essa importância de olhar adiante. Um carro que pegasse uma estrada e encostasse no acostamento jamais chegaria ao destino. E quando nos afeiçoamos somente ao que é sensível ao toque neste momento, freamos o carro da nossa existência e o estacionamos no marasmo do momentâneo e fútil, que vai sumir tal como a fumaça.

Não tenhamos medo de olhar a próxima curva, em qualquer circunstância de nossa vida. Conhecemos casos de pessoas que não se abateram com os "nãos" da vida, nem brincaram de esconde-esconde com os desafios. Olharam pra frente e deixaram marcas eternas, ao invés de satisfações momentâneas, cheias de vazio. Que nossa jornada diária possa estar sempre embebida daquilo que vi nos túmulos: "agora começo!".

Só assim, com o olhar no Infinito, podemos fazer a vida e todos os fatos que vierem nela valer a pena. E não tremeremos diante da Morte (e "mortes" diárias com que topamos: as contrariedades, os trabalhos, as responsabilidades...): antes a receberemos com braços abertos, dizendo ao Eterno: "veja só, meu Pai: rendi o que Tu me destes, e deixei rastros sólidos em tudo e todos ao meu redor!".

Isso que é verdadeira fonte de imortalidade e eternidade!

São Paulo, 10/11/2008. W.E.M.

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