segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crônica - Ano VI - Nº 189 - "Professor = para servir, servir..."


Em 2001, começava minha carreira profissional. Pela primeira vez, com 17 anos (tirando os 4 anos anteriores onde ajudei meus pais no bazar de casa) iria enfrentar a rotina do trabalho. Bater ponto, correr atrás da condução, vestir o terno ou a roupa social e ir "trampar", em uma secretaria de cursos. Cheio de papéis, atendimento ao público, telefonemas, enfim... Seis anos.

Depois, em 2008 e 2009, uma consultoria ambiental e  de engenharia e uma secretaria municipal. Também papéis, mapas em Autocad, mesa e micro, aquela rotina de escritório. Algo mais próximo de minha formação. Dois anos.

Entretanto, eu não estava feliz. Praticamente nove anos de trabalhos burocráticos, roupas sociais, aquele sufoco da vida de escritório e bate-pontos, entre muitas outras coisas que, no fundo, me deixavam um tanto decepcionado, como bem diz a letra da música "Ouro de tolo". E parti em busca de respostas.

Finais de 2009. E vem na mente uma resposta para minhas indagações: queria servir mais. Sentir um retorno maior do meu trabalho, olhar de maneira mais palpável os frutos de minha dedicação de horários, de esforço... Sinceramente, nos meus trabalhos anteriores poucas vezes tive essa sensação a qual eu buscava. E então, resolvi partir para uma nova empreitada: a docência.

Docência? Professor? Pirou, Wanderlei? Sim, tive que ouvir muitas vezes essa exclamação na época em que resolvi encarar a docência. Muitos me desencorajaram, inclusive hoje colegas de profissão. Quiseram a todo custo me fazer voltar atrás, falando de uma educação supostamente falida, da "má qualidade dos alunos", do salário de fome e inúmeros outros motivos. 

E chega meu primeiro dia de trabalho como professor. Me lembro até hoje a data: 8 de Fevereiro de 2010. O lugar? Uma escola a dois minutos de minha casa, de fama complicada tanto de estrutura como de alunos e bairro. O Dorô. Quis ir para o olho do furacão, "me jogar". O porquê? O fato de querer retribuir ao lugar onde cresci, apesar dos pesares,  o diploma que um mês atrás tinha conseguido.

A recepção dos colegas? Não poderia ser melhor. Rapidamente o papo foi sendo construído. Ideias trocadas, ambiente conhecido, avental a postos e pra cima das aulas. Hora de encarar os alunos.

A receita para a boa aula? Uma prece ao Professor, um leve beijo no avental (como sempre faço discretamente ao colocá-lo, tal qual o sacerdote beija sua estola, ao se paramentar para sua Missa) doses cavalares de dedicação e respeito ao aluno, uma boa fala e conteúdo e... simbora. Era, então, ver no que essa história daria.

O resultado não poderia ser melhor. 

Passaram-se quase três anos desse acontecido. Muitos alunos, salas, dias ótimos, bons ruins. Tal qual num relacionamento, a docência terá dias em que as aulas encaixarão, os alunos vão vibrar, irão se dedicar mais que o professor. Terão alguns outros, no entanto, em que nem o Papa conseguiria fazer a coisa engrenar, ficando aquela sensação de que "poderia ser mais". Mas sempre - isso, sempre! - , perseverança, não desistir do trabalho feito. Continuar apostando na seriedade, no respeito, no querer dar sua aula como se fosse a última. Superando desafios incontáveis: problemas de estrutura, vaidades, murmurações, "rasteiras" - sim, elas existem, e como existem no ambiente escolar. Aliás, essas rasteiras e bloqueios pareceram aumentar nos últimos tempos, como se me desafiassem nesse ideal a que me propus. Pois podem vir, que os peitarei.

Me achei profissionalmente. Descobri onde esse servir poderia ganhar corpo. Hoje sirvo: meus alunos, meus colegas professores, minha Escola. Hoje a profissão docente toma conta da alma, a ponto dela invadir os sonhos na madrugada, as preocupações de final de semana, até a hora do almoço. Me vejo como professor 24 horas por dia. Alguns poderão me questionar financeiramente, perguntar se sou ou não reconhecido, falar dos problemas existentes e muito mais. Até com certa razão, pois muita coisa há por fazer e melhorar. Entretanto, o que são elas quando, ao tocar do despertador, se vai com prazer ao seu lugar de trabalho, se faz o que se gosta e, ao olhar para trás, vê que nada te faltou e você tem hoje aquilo que deseja? Não, meus amigos, não há sensação melhor. Por essas e por outras que perdi o medo das segundas-feiras. Já me peguei ansioso por elas... só para ir exercer aquilo onde me achei. Em silêncio, sem ficar contando ou esperando méritos ou feitos: eles, se houverem, fico certo de que falarão por si. Aliás, se há méritos de alguém nesses quase três anos, são dos alunos, da molecada. Não seria nada sem eles. Meu trabalho não encontraria sentido.

Professor? Para servir, servir, servir. Servir a garotada, com um trabalho empenhado e que talvez não agora, mas lá adiante eles possam fazer uso. Servir o local onde cresci. Servir a mim mesmo, já que fica aquela sensação de resposta para aquela indagação de anos anteriores: "para quem vai meu trabalho?". Eis a resposta para passar os dias, meses, anos sem perder o pique e a motivação de ser, com muito orgulho de meus alunos, professor: continuar servindo.  

Um viva ao serviço, um viva à docência!

São Paulo, 15/10/2012. W.E.M.

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